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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

A partir de amanhã a minha vida vai mudar. Em tempos de crise vou poder comer bifes mais do que uma vez por semana. A partir de amanhã é a doer, é o primeiro dia do resto da minha vida, essas coisas. A partir de amanhã mudo de vida no meu país. Na minha cidade. Estou contente e com crise de crohn ao mesmo tempo. Coisas.

 

O ano passado a minha prenda de anos foi um internamento de mais de uma semana no hospital S. João. Entrei nas urgências com dores incríveis na barriga, soluços, não comia nada há três dias, estava a chá e a bolachas há uma semana, estava desesperado. O diagnóstico foi doença de Crohn. Tomo agora medicação para a vida. Não tive mais nenhum episódio destes, mas não estou livre disso, a medicação pode vir a falhar. E, muito provavelmente, algures na minha vida vou ter de ser operado para retirar a parte inchada dos intestinos. Tive um tratamento incrível no S. João e ainda hoje tenho lá consultas a cada três ou seis meses.

 

Mas como disse atrás, estive três dias sem comer. Nesses dias já estava muito mal. E como tal, dirigi-me às urgências a que tinha de me dirigir na minha zona, as urgências do centro hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho. Compreendo que o Crohn seja difícil de detetar (embora no S. João tenha sido a primeira coisa que disseram) mas a primeira hipótese que lá colocaram foi anorexia. Eu, que nada sei do assunto, nada disse. Mas lembrei-me imediatamente de todas as francesinhas que comi na minha vida. Fizeram testes, deram-me umas drogas, priperam, creio, e mandaram-me para casa. Eu estava mesmo mal, mas dei o benefício da dúvida. "Vamos ver se fico melhor", pensei.

 

Passadas nem 24 horas, estava de volta. As dores estavam piores e nem comprimidos conseguia tomar. Quando fui atendido o médico recebeu-me assim: "Esteve aqui ontem à noite! Por que está de volta?" Respondi que estava pior. A resposta dele foi: "Vai tomar priperam e vai para casa." E fui. Não melhorei. Fui para o S. João.

 

Passou um ano. Vou ao correio e tenho lá uma carta do centro hospitalar a dizer "... que se encontram em dívida as taxas moderadoras..." Sabem o que podem fazer às taxas?

Conheci na primeira classe aquele que iria ser um grande amigo meu, vamos chamá-lo Dromedário. O Dromedário andou comigo até ao nono ano na mesma turma e na mesma escola até ao 12º. No décimo mudei para um agrupamento que não o dele e conheci o companheiro de blog, o CRG. Foi com o CRG que comprei a Aparição na feira do livro do Porto. Não tinha por hábito ler os livros obrigatórios do secundário, sempre me irritou a obrigatoriedade. Mas a Aparição foi lida em duas tardes. Nunca tinha devorado um livro daquela maneira.

Estou a dizer isto à nossa professora de Latim (professora essa que era a Dromedário, mãe do Dromedário) e ela recomenda-me o Cartas a Sandra. Empresta-me o livro e mais um vez é devorado em pouco tempo. Chegado ao fim deste livro, era obrigatório ler o Para Sempre. O Cartas era a conclusão deste. E o Para Sempre marcou-me. Como mais nenhum até então. Chorei, fiquei perturbado, não pensei noutra coisa durante semanas. Depois deu-se a loucura e comprei e li todos os livros do Vergílio Ferreira.

Os anos passam e na faculdade empresto o livro a uma amiga minha. Fico anos sem ver o livro. E de repente, no facebook, um amigo meu que só conheço graças ao CRG, vamos chamá-lo Oregãos, escreve no seu perfil um texto do Vergílio Ferreira. Isto dois dias antes do aniversário da minha amiga que tinha o meu livro.

Enfim, tudo isto para dizer que o livro está de volta à minha mesinha de cabeceira, que é um bom livro, leiam-no, e pronto, estou de volta ao mundo do Vergílio. E em seguida vou passá-lo à minha companheira, vamos chamá-la Diminutivo, que antes de me conhecer andou na faculdade com o CRG. E não, não foi o CRG que nos apresentou.

 

Digo sempre que só não faço música porque não tenho tempo. Mas quando finalmente tenho tempo digo que não faço música porque não consigo escrever como o José Mário Branco ou o Fausto. E vou desistindo. Por isso, fico irritado quando vejo que bandas como os Mumford and Sons fazem coisas como esta:

 


que só me fazem lembrar isto:


E por cá há uma Aurea que tem um single que se chama Scratch My Back depois de um cd do Peter Gabriel que se chama, imaginem, Scratch My Back. E tem este single...



... que me faz sempre lembrar isto.


Pronto, depois deste desabafo vou para o piano escrever coisas como "só gosto de ti, porquê, não sei..."

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