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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

 

Enquanto descansava no meu quarto de Hotel, na Provença, deparei-me com a foto supra do NY Times: centenas de turistas atropelavam-se para tirar uma foto ao quadro mais famoso e fotografado do mundo.

 

Por muito que tente não consigo perceber por que razão alguém viaja milhares de quilómetros, espera horas em filas, para acabar a ver a Mona Lisa através do ecrã minúsculo da sua câmara/smartphone; que vantagem terão ao ter a sua própria foto, que ângulo desconhecido obterão que não está presente nas milhares de fotografias online?

 

Uma das explicações poderá residir na pressão de grupo: se todos na sala estão a tirar fotografias haverá um forte estimulo para se seguir o exemplo. Apostaria, porém, noutra explicação: as fotos servem como prova que estiveram no Louvre, que viram a Mona Lisa - que tanto podia ser uma pintura como um celeiro.

 

Enquanto deambulava nestas reflexões pensei nos locais que havia visitado nestas férias. A forma como os turistas, comigo incluído, afectam o "habitat natural", como conseguem transformar qualquer local num parque temático, devidamente adaptado às suas necessidades e expectativas. 

 

E conclui que eu sou o pior tipo de turistas: julgava que viajar, mesmo uns meros dias no estrangeiro, me permitiria conhecer um país, entender os seus habitantes. Na verdade, uma viagem, se tivermos sorte, "apenas" servirá para melhor nos conhecermos a nós próprios.

Mex

Em "Shipping Out" David Foster Wallace descreve ironicamente os excessos e o suposto divertimento que um cruzeiro de luxo de sete dias lhe deveria ter dado. Imbuído desse espírito vou tentar (e falhar) descrever à moda de Wallace a semana que passei num Resort de cinco estrelas na Riviera Maya, México.

 

IDA

 

Quando soube que a partida fazia-se desde Lisboa senti um calafrio que correu por toda a minha coluna. Eu já sabia que Portela era conhecido como o triângulo das Bermudas da bagagem, o que não sabia é que também fazia desaparecer placas informativas: em vão procurei uma qualquer sinalética que me levasse ao Parque n.º 5. Felizmente após um número indeterminado de voltas e inversões de marcha apareceu, à minha direita, no meio da neblina (pensando melhor é possível que não tivesse existido neblina), uma entrada de um parque estacionamento. "Espera...que número é aquele? É o cinco! É o parque cinco", gritei eu efusivamente como se tivesse acabado de ganhar o primeiro prémio do Euromilhões.

 

Resolvido este percalço peguei na trela da minha mala e dirigi-me para o terminal..argh..e agora..esquerda ou direita?..a minha ingenuidade não tem fim: como se existissem placas a indicar o caminho para o terminal, como se existissem placas nesta terra. Uma sensação parecida com os estudantes do Blair Witch Project invadiu-me o pensamento: vou passar as férias a vaguear por estas ruas - confesso que esta é a versão limpa, no original havia mais algum vernáculo.

 

Uma dose de sorte e depois de muita tentativa e erro lá consegui encontrar o terminal, fazer o check-in em tempo e embarcar antes que as colunas do aeroporto pronunciassem uns sons parecidos com o meu nome. 
Sentado, de cinto colocado estava pronto para uma longa viagem...

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