Um dos paradoxos do nosso tempo prende-se com a disparidade entre a escolha quase ilimitada - o que acaba, até, por provocar ansiedade - que existe enquanto consumidores (adquirir um produto simples como o leite tornou-se numa esgotante epopeia entre pacotes de leite gordo, sem lactose, com cálcio, magro, UHT, dispersas por um sem número de marcas diferentes) e a ausência de escolhas enquanto cidadãos.
Ora, essa ausência de alternativas resulta de uma visão paternalista e um complexo de superioridade que as elites políticas possuem sobre a generalidade dos cidadãos, que revela-se na explicação pueril que determinada medida foi recusada pela opinião pública porquanto esta havia sido mal explicada.
O receio do que os cidadãos pudessem decidir - o que no fundo é a base da democracia - encontrou o seu apogeu na arquitectura da União Europeia, que sempre teve o cuidado de criar os seus organismos imunes aos interesses "perigosos" dos povos, ficando isentos de qualquer responsabilização democrática.
Tal arquitectura provoca um novo paradoxo: um colete de forças institucional que nos impede de acabar com esta loucura.