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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Diante um muro - a ausência de alternativas - torna-se fundamental não só olhar para os lados em busca de outras opções como perceber quem construiu e como foi construído este muro.

 

Em 2012, as tarifas da electricidade sofrerá um aumento médio de 20% para as empresas. Numa altura que se discute a falta de competividade das empresas portuguesas, que o seu aumento seria o caminho que tiraria Portugal da actual crise, não deixa de parecer paradoxal este aumento considerável: um aumento de 1/4 do preço da electricidade, o que levará possivelmente algumas empresas a deslocalizar a sua produção para Espanha.

 

Sobretudo considerando que a EDP teve um lucro recorde em 2010 e, ao que tudo indica, aumentará esse lucro em 2011, o que indica uma invejável saúde financeira. 

 

Perante este cenário não faria sentido o Governo, em vez de procurar aumentar o horário do trabalho em meia hora ou a eliminação de feriados, o que na prática não terá efeitos reais na produtividade, diligenciar no sentido de pelo menos manter, durante os próximos dois anos, o preço das tarifas de electricidade inalterável para as empresas.

 

Dir-me-ão que a EDP é privada. E eu digo "pois!". 

 

 

Da leitura dos jornais ou noticiários televisivos não parece, mas Portugal também participou na 1ª Guerra Mundial, tendo sido mobilizados mais de 200 mil homens, dos quais cerca de 10 mil morreram e muitos milhares ficaram feridos.

 

Hoje, 11 de Novembro de 2011, é o aniversário do fim simbólico deste conflito. Infelizmente, parece que todos os impulsos patrióticos de hoje foram sugados por causa de um jogo de futebol, é pena.

 

No fim da adolescência há uma pressa de sair, uma vontade de partir, seja por onde for, largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar, pelas noites misteriosas e fundas. Ir, ir, ir, ir de vez! Uma vida cheia de ânsias que a realidade ainda não estreitou. 

 

Mas a realidade chega e envolve as ânsias num suave torpor; afunila o horizonte; ancora os desejos. Nascem raízes - boas raízes. Estas crescem, tornam-se cada vez mais profundas, agarram e embalam-nos. O desejo de partir não desaparece, modifica-se: a viagem é sempre de ida e volta.

 

E se essa realidade não chegar? Se o solo pátrio não permitir que as raízes penetrem no seu ventre, agora, árido e infértil? Centenas, milhares de jovens obrigados a emigrar. Um êxodo. Um desperdício dos melhores e mais capazes. Uma geração perdida.

Uma das vantagens de passar o feriado fora de casa é que me pude esquivar das celebrações do 10 de Junho (a única  suportável foi a que transformou os Xutos em Comendadores!) e respectivos discursos. 

 

O nosso mestre de cerimónias, o Billy Crystal do 10 de Junho, - que vai já na sua terceira vez - apontou as suas baterias à Constituição, que foi designada como sendo uma das responsáveis pelo nosso atraso.

 

Antes de proceder à defesa da honra da nossa Constituição um ponto prévio.

 

As críticas à constituição não são novas, nem recentes, porém espantam-me que estas venham de um sociólogo. Se há algo de intrinsecamente português é a atitude laxativa e pouco rigorosa perante as normas. Estas nunca são consideradas imperativas mas maleáveis, sendo alvo de adaptação por cada português para cada caso concreto, sendo racionalizada a razão de cada excepção: estacionamentos em segunda fila ("é por apenas alguns segundos") ou o uso generalizado de recibos verdes ilegais ("serve para facilitar a vida do trabalhador, ou melhor, colaborador") são apenas alguns dos diversos exemplos. Nem o Presidente da República escapa a este sentimento "pragmático" quando tenta acelerar a tomada de posse do Governo, ultrapassando, com isso, algumas normas da Constituição que jurou defender.

 

Mas adiante.

 

É unanimemente defendido que desde a Assembleia Constituinte que aquele hemiciclo não viu um conjunto de mentes tão capazes, inclusivamente tendo a participação do Dr. António Barreto. Então o que aconteceu? Afinal qual é o problema da Constituição?

 

Comecemos pelo artigo 1º que estatuí o seguinte: Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária. De facto, isto é infelizmente "anacrónico, barroco e excessivamente programático", talvez o erro não esteja na Constituição mas sim no desvio que fizemos nos últimos quarenta anos, quando nos deixámos de empenhar na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

Imbuído no espírito desta data, aproveitei o feriado para visitar Portugal "profundo" - expressão a todos os títulos ridícula, até porque actualmente de Portugal nem o Pico encontra-se à tona - mais precisamente a região de Trás-os-Montes, um simples roteiro entre Chaves, Montalegre, Boticas e Vidago.

 

A visita foi boa, o passeio agradável, comida de chorar por mais e depois chorar por se ter comido demais, a companhia de sonho e uma certeza: em vez de Passos Coelho, devíamos ter elegido um novo Sancho I, em alternativa, caso não fosse possível, um Rocco Siffredi ou um Nacho Vidal, de forma a evitar a transformação do nosso país num aglomerado de cidades e vilas fantasmas. 

 

A má notícia é que não podemos contar com o auxílio do nosso Chefe de Estado, uma vez que este não sabe "o que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal". Afigura-se que este dois senhores supra mencionados, caso fossem Primeiro-Ministro, explicariam, nas reuniões semanais com o Chefe do Estado, as ferramentas necessárias para o aumento de natalidade.

 

A boa notícia é que o clube das virgens fechou, por isso parece que ainda poderá haver salvação para Portugal. 

Neste momento, Portugal está a ser alvo de bullying: estamos a ser insultado, tratados como um choninhas de óculos, o "bom aluno" a quem roubam o dinheiro de almoço. Os "nossos" lideres amedrontados calam, comem e ainda pedem desculpa.

 

É natural. A única forma de sermos respeitados é termos respeito por nós próprios, mas preferimo-nos auto-flagelar, como naquela cena do Sétimo Selo do Bergman.  

 

Sim, claro que também temos culpas. No entanto, não seria mal pensado retorquir àquele Finlandês, que perguntou a Passos Coelho se o almoço deste seria pago através dos seus impostos, que, se calhar, estava de férias com o dinheiro que os Portugueses gastam anualmente em Nokias, e que, nesse caso, nem achava mal sermos consumistas.

 

Se são assim os "nossos" lideres haverá hipótese para Portugal? Teremos a nossa coluna definitivamente quebrada: um mero servo sem opinião nem poder de decisão sobre os nossos destinos colectivos. A liberdade perdida e um simulacro de democracia: o nosso país transformado numa colónia da Alemanha.

 

O sangue derramado, as lágrimas vertidas, o sacrifício dos nossos antepassados na construção e independência do nosso país merecia mais respeito e memória: 900 anos de história esquecidos e vendidos por um punhado de euros. Não sou patriota, nem muito menos nacionalista, mas uma vez que todos estão a "defender" os seus povos, gostaria de ver os "nossos" líderes a defender o nosso, com actos corajosos e concretos, sem subserviências. 

 

Talvez o primeiro passo seja recuperarmos o respeito por nós próprios, por Portugal...

 

* Emiliano Zapata

As reacções partidárias ao pedido de demissão do 1º Ministro e à eventual dissolução do Parlamento seguiram um tom comum, que se assemelha em tudo ao discurso que os país fazem quando informam os filhos que se vão divorciar: os portugueses não tiveram culpa deste desfecho, há uma confiança nos portugueses, nós, políticos, gostámos muito dos portugueses, tudo vai correr bem.

 

Será assim? Serão os portugueses inocentes? Seremos ingovernáveis?

 

Parafraseando Stan Lee: grande poder acarreta grande responsabilidade. E por alguma razão que não consigo compreender, os portugueses não apreciam muito a Responsabilidade: a responsabilidade de fazer escolhas, de optar. Os portugueses gostam é de agradar, o que explica porque somos considerados bons anfitriões - apesar de desconfiar de que se fosse do conhecimento geral a origem de tal termo não haveria razões para tanta satisfação. 

 

E deste modo preferem obedecer a escolher, preferem seguir a corrente lenta e certa a remar contra a maré, que alguém, de preferência estrangeiro, aponte o caminho. Querem que os políticos se entendam, caso contrário teriam que optar por um rumo; e por isso o centro, o centrão ganha sempre as eleições.

 

 

 

 

Meu caro amigo eu quis até telefonar 
Mas a tarifa não tem graça 
Eu ando aflito pra fazer você ficar 
A par de tudo que se passa


Aqui na terra tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll 
Uns dias chove, noutros dias bate sol


Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

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