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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Por razões de saúde tento abster-me, o mais possível, de programas de "opinião pública", um exercício que transforma a pessoa mais tolerante num autêntico extremista.


Hoje, infelizmente, não consegui escapar ao seu encanto e lá ouvi alguns minutos de opiniões sobre as câmaras de segurança: "quem não deve não teme" e "a segurança tem que estar sempre em primeiro lugar" foram algumas pérolas proferidas num curto espaço de tempo. Um ouvinte, imbuído de um espírito patriótico, chegou mesmo ao ponto de declarar que estaria disponível para ser filmado 24 horas por dia se o Governo considerasse imprescindível - espero que o Governo não considere; já a TVI talvez sim, quem sabe.

 

Guardarei para um próximo artigo a discussão sobre a deriva securitária que esta medida implica e as suas consequências à liberdade, mas não seria importante antes de mais verificar se a utilização de câmaras reduz efectivamente a taxa de crime.

 

No Reino Unido, onde este processo encontra-se mais avançado, existe uma câmara de segurança para cada 32 habitantes, sendo que câmaras controladas pelo Estado corresponde a uma para cada 1000 habitantes. Entre 2007 e 2010 foram gastos 314 milhões de Libras em câmaras de segurança.

 

Apesar deste forte investimento, os estudos estão longe de corroborar a tese de que existe uma redução do crime com a instalação de câmaras, de facto segundo uma análise a 44 estudos verifica-se que estas produzem um impacto ligeiro no crime em geral, os seus melhores resultados correspondem à redução de assaltos a carros estacionados. Um outro estudo efectuado em San Francisco mostrou que as câmaras limitam-se a deslocalizar o crime.

 

Perante estas dúvidas legítimas quanto aos resultados da utilização de câmaras de segurança como forma de prevenção da ocorrência de crimes, seria aconselhável utilizar o respectivo orçamento para programas que comprovadamente reduzem a ocorrência de crimes, tais como esta.

Nasci em liberdade, vivi sempre em liberdade. Deste modo, recuso-me a falar desta data e do seu significado. Por muito que tente não consigo imaginar o que seria viver num Portugal acorrentado e em completa escuridão, trazida pelo manto negro de Salazar. Da mesma forma que, por muito que se tente, não se consegue colocar nos pés de alguém invisual ou surdo, apenas quem passou por aquela realidade pode com autoridade falar da falta de liberdade, da repressão, da fome.

 

Por vezes, perante as escolhas políticas que a democracia nos trouxe (os mesmos sempre a governar, alternância sem alternativa) apetece baixar os braços: escrever num blog ou discutir parece inconsequente, um desperdício. Um qualquer psicólogo diria que com esta crise atravessámos as cinco fases da dor: negação, ira, negociação, depressão e aceitação. 

 

Aceitei que a maior parte das pessoas apenas tenta viver em paz, sem grandes ideais ideológicos ou ideias políticas, adaptando-se como melhor sabem às vicissitudes do seu tempo. Se esta atitude irrita-me (se calhar ainda estou na fase da ira) como teria sido para os que, diariamente e durante quarenta e oito anos, combateram a ditadura verificar que grande parte da população era relativamente indiferente à sua luta, que resignaram-se à inevitabilidade da censura e do fascismo. 

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