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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Ontem, infelizmente o meu zapping (de quatro canais que a vida não está fácil) levou-me a assistir a mais um episódio do Jerry Springer português, como tão bem descreve Sérgio Lavos, faltando apenas cânticos de "Fátima! Fátima!" para ficar completo. Tenho para mim, porém, que a plateia receosa da sua integridade física nunca seria temerária ao ponto de bater mais do que duas palmas por episódio quanto mais entoar palavras de ordem. Nesse aspecto, o Prós e Contras é um tudo ou nada esquizofrénico: gravado em anfiteatros, com plateia, e depois reprimem a todo o custo a respectiva reacção; ou então talvez seja a alma de arbitro de ténis da apresentadora a evidenciar-se. 

 

Mas adiante.

 

O programa de ontem sob o tema "Juventude em revolta" foi mais um excelente momento televisivo de debate, uma espécie de combate de boxe entre Gandhi e Martin Luther King, jr, ou seja, não existiu em qualquer momento algo que aproximasse aquilo de um verdadeiro debate, com troca de ideias devidamente fundamentadas, nem foi possível retirar dali qualquer outra conclusão que não a que já tinha referido no anterior post

Nem podia ser de outro modo: ambas as partes partiam de premissas distintas, seguiam o seu caminho até alcançar uma conclusão antagónica, era como se um dos lados entrasse no metro na estação da Trindade e outro na do Rossio, ambos seguiam direitos pelo seu trilho subterrâneo para finalmente ficarem surpreendidos quando uns saiam em Campanhã e outros no Rato.

A questão fundamental, e que não foi agora debatida, é saber se o estado actual das coisas, com a precaridade, etc é algo imutável ou não. Como diria Shaw: You see things; and you say, 'Why?' But I dream things that never were; and I say, "Why not?". 

Ora, porque tem que ser assim? Isto, que eu saiba, não é uma lei da física, é uma construção social. Presumo que quando se iniciarem as lutas contra o trabalho infantil, pelo direito a férias pagas, pelas 40 horas semanais existiu o discurso actual: seria impossível, as empresas nunca iriam aguentar, temos que nos habituar à industrialização da sociedade...

Sob o papão da competição têm-se visto enormes atropelos aos direitos individuais e à própria ideia de sociedade, com enormes ganhos para os mais poderosos: competição fiscal, de legislação laboral permitem a deslocalização de empresas e capitais sem controlo. 

O problema desta juventude, a mais bem preparada de sempre, advêm precisamente por ser a mais bem preparada: os empregadores têm à sua disposição um maior número de potenciais recrutas, sabem que se aquele candidato se recusa estar num escritório (alguns escritórios de advogados conhecidos na praça) a receber cerca de € 500,00, ou menos, a recibos verdes existirá outro que aceitará, porque não tem outra opção. 

(Agora não aplaudam, porque a Dra. Fátima Campos Ferreira anda por aí!)

A ideia de categorizar, classificar e organizar é uma característica intrinsecamente humana, o que permite explicar a obsessão em arranjar denominações para gerações: temos a geração rasca, à rasca, nem nem, deolinda... 

 

Tretas, não existe uma geração. Ao mesmo tempo, confluem diversas sensibilidades, com interesses e aspirações dispares. Por exemplo, há diversas gerações 60's, acreditem, a maioria não era hippie com flores no cabelo; da mesma forma que a dos 50's não era predominante beatnik.

 

Na verdade, tenho tanto em comum com alguns espécimes da minha geração como com um Neanderthal, confesso até mais com este do que com aquele, felizmente. A extrapolação que se faz de algumas características individuais para se pintar todo um grupo, cuja característica comum, por vezes única, é o simples facto de ter nascido à volta do mesmo ano, é no mínimo exagerada. 

 

Como diria Marx (Groucho, não o Karl): Não quero pertencer a uma geração que aceita uma pessoa como eu como membro.

 

 

 

 

 

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