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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Neste fim-de-semana senti orgulho em ser portista. O quê?! Sentir orgulho após dois resultados deploráveis: uma derrota contra uma equipa da quarta divisão europeia; e um empate e exibição paupéria, sem imaginação e estofo de campeão.

 

Costuma-se dizer que a verdadeira personalidade revela-se, não em alturas de sucesso, mas em tempos de dificuldade e infortunío, quando as marés de azar batem à nossa porta. 

 

Ora, o Porto, no jogo contra o Olhanense, teve, segundo os entendidos, duas grandes penalidades a seu favor que não foram assinaladas: uma discutível mão na bola de Mexer (infelizmente parece que actualmente tudo que toca na mão é falta) e uma falta do mesmo Mexer sobre o Hulk.

 

Pese embora estes incidentes, não ouvi, quer de parte da estrutura quer de quase a totalidade dos adeptos, qualquer referência a estas duas penalidades (e ainda bem que assim não o foi) cinjindo-se as críticas ao funcionamento da equipa, à falta de garra e confiança, à inoperância do treinador. 

 

Outros clubes menores teriam-se agarrado, com unhas e dentes, a estas duas penalidades para branquear o desaire. Os treinadores e dirigentes teriam levantando suspeitas e cabalas, sombras do sistema ou outras histórias de embalar a fim de ludibriar os seus adeptos, assinalando causas exógenas como origem dos maus resultados.

 

Essa atitude de desresponsabilização faria apenas eternizar a crise, os jogadores não sentiriam a necessidade de correr mais, jogar melhor porque no fundo a culpa era dos arbítros. Mas o verdadeiro campeão não é assim. O verdadeiro campeão vai buscar a cada dificuldade força para lutar mais e melhor, a cada injustiça mais vontade de se superar.

 

Isto é ser Porto! E foi por isto que senti orgulho.

Acabou a época, inicia-se o defeso. O esférico deixou de rolar sobre a erva por isso discute-se sobre o palmarés dos clubes. É natural que o Benfica pugne por ter 69 títulos - quem é que não gosta de um 69 - por isso vá-se lá arranjar uma Taça Latina: o Torneio Guadiana lembra uma prova de canoagem enquanto a Taça Amizade soa um pouco maricas. 

 

A Fifa já veio esclarecer que a Taça Latina não é um trofeu oficial. Infelizmente, a Fifa continua sem perceber o nosso país: aqui os factos não interessam, muito menos é um critério dos nossos jornalistas, o importante foi a "projecção e a importância que os portugueses na altura lhe atribuíram". 

 

Bem, seguindo esse critério afigura-se que a Taça Arsenal deverá ser contabilizada a favor do Porto. Para quem não sabe, em 1948, o Arsenal, que era considerada a melhor equipa do Mundo, foi convidada para realizar dois jogos particulares em Portugal. O primeiro jogo disputou-se no Estádio Nacional contra o Benfica: vitória de 4-0 dos ingleses, tendo a imprensa da altura afirmado que os "gunners" eram a melhor equipa que jogara até então em Portugal. O segundo jogo, quatro dias depois, realizou-se no Estádio do Lima, contra o Porto: vitória dos portistas por 3-2.

 

Para comemorar tal feito realizou-se uma colecta na qual se angariou 200 contos. Esta quantia serviu para a construção de um troféu "A Taça Arsenal". Este troféu, que pesa mais de 250kg, é composto por duas peças: uma peça totalmente concebida em prata e um relicário*.

 

No entanto, esta é uma discussão estéril e sem qualquer importância, o que interessa é próximo jogo, a próxima competição. E, também é verdade que o Porto ainda não atingiu nacionalmente - internacionalmente já é outra história - o palmarés do Benfica, continuamos ainda longe do número de campeonatos nacionais e de taças de Portugal, as competições que realmente interessam.

 

 

* A história completa aqui 

Passados mais de 100 anos depois do famoso Caso Dreyfus* - uma França dividida entre os dreyfusard e os anti-dreyfusard, entre os liberais e os anti-semitas - surge um novo caso similar: a equipa técnica da selecção gaulesa, incluindo o seu seleccionador Laurent Blanc, planeava a introdução de quotas, limitação a 30% dos jogadores de origem africanas, caribenhas, etc nos centros de formação; segundo os seus defensores era um plano para promover jogadores de "cultura e história francesa". 

 

Porventura terão esquecidos que a história francesa de futebol foi construída pelos pés de Zidane, descendente argelino, de Platini, descendente italiano, de Henry, Tigana, Thuram, Vieira...

 

Para já sabe-se que o seleccionador francês foi ilibado de qualquer responsabilidade porquanto seria a sua primeira reunião desse tipo, e não teria qualquer opinião quanto a esse assunto nem qualquer projecto.

 

Nenhuma opinião? Uma orientação xenófoba não pode ser tratada de um modo neutral, deveria ter recusado de imediato, apresentado a sua oposição clara e sem rodeios. O mero ponderar de uma outra solução deveria implicar a sua imediata demissão do cargo que ocupa, bem como a demissão da própria estrutura da federação. 

 

 

 

 

 


 

* Entre diversas consequências originou a criação da Volta à França em Bicicleta

Durante o último campeonato do Mundo, os telespectadores criticaram o barulho criado pelas milhares de vuvuzelas. Apesar de tudo, aquele enxame de abelhas é bem menos irritante que os comentários televisivos nacionais que temos que aturar.

 

De todos (em sinal aberto) o menos mau são os da rtp: respeito profundamente alguém (Freitas Lobo) que segue os campeonatos nacionais até às distritais, os principais campeonatos da Europa, o campeonato do Brasil, Argentina, México, Japão sem entrar compulsivamente no Magalhães Lemos.

 

A seguir, num quase empate técnico com o último classificado, chegam os comentários da TVI. Eu sei, eu sei: o Valdemar "Fussil" Duarte, que a seguir à "Portuguesa" considera o Hino da Champions aquele que tem mais significado (TSF - 2010), percebe tanto de futebol como o Luis Campos, ou seja, abaixo de zero. E quando acompanhado pelo Querido Manha, que utiliza dados estatísticos tão pertinentes como indicar que ninguém falhava tantos penalties desde um jogo na "capital" de Marrocos em casa do Rabat de Cassablanca (TVI - 2010), faz-nos suspirar por um funil para verter azeite quente nos tímpanos. Conseguem, porém, sair do último lugar porque, pese embora serem menos isentos do que a Benfica TV, sabe-se o que são, ao que vieram e não se tentam esconder: é como ouvir o relato de amigos benfiquistas.

 

Em último lugar, são os comentários da SIC. Augusto Marques sonha com o Gaitán e as mães dos jogadores do Porto insistem em chamar aos filhos outra coisa, o que denota uma má vontade inqualificável. Nuno Luz. O que dizer deste jornalista, que desde que levou com balões de água dos jogadores da selecção nacional, nunca mais foi o mesmo.

 

Ontem, foi triste ver o Guarin destruir as expectativas dos comentadores da SIC. Na verdade, a culpa é minha: desconhecia as suas origens andaluzes, o que explica como conseguiram identificar o fora-de-jogo claríssimo do Rolando, ao mesmo tempo que foram céleres a perdoar o arbitro por não ter assinalado a carga do Kanoute.

 

Apesar de tudo, ontem felizmente não se verificou a "perfect storm" dos comentários televisivos: o tridente constituído por Augusto Marques, Nuno Luz e Rui Santos, que é indubitavelmente o comentador que percebe mais de futebol desde que o mesmo não seja praticado dentro de quatro linhas. Este tridente, para além de denotarem as características facciosas dos seus companheiros da TVI, esforçam-se por retirar todo e qualquer gozo ao jogo com referências quase obsessivas aos programas que se seguem naquela estação.

 

Voltem vuvuzelas, estão perdoadas.

Existe um certo orgulho pátrio por termos no nosso vocabulário uma palavra intraduzível para outra língua: saudade. No entanto, outras culturas têm palavras que conseguem resumir igualmente uma série de emoções. Na Alemanha, por exemplo, há uma palavra que infelizmente não tem correspondência em português: Schadenfreude, que significa tirar prazer do azar ou infortúnio de outrem, como quando nos rimos a ver alguém a cair.

A diferença, porém, entre este conceito e sadismo afigura-se que terá a ver com a qualidade do outrem: ninguém se ri se uma idosa cai desamparada (a menos que seja sádico, lá está!) mas não conseguimos conter as gargalhadas se um motociclista estatela-se no chão enquanto tentava fazer um "cavalinho".

 

E, esta semana, confesso que nada me deu tanto prazer como os 3 do Hapoel ao Benfica, os maiores melhores do Mundo e quem sabe da Europa, futuros vencedores da Champions, que apenas a fruta e o sistema os impediam de alcançar a glória suprema.

 

É que, ao contrário do politicamente correcto, não considero uma aberração sentir Schadenfreude quando os nossos rivais internos se despenham na Europa. Claro que racionalmente é inexplicável mas a rivalidade é isso mesmo: uma ligação emocional muito forte, de muitos anos, e apenas possível com algo que nos seja próximo. Por esta razão é que a existe aquela carga emocional dos "derbys" e dos clássicos. Nos outros países é até visto com uma certa naturalidade: perguntem aos adeptos do Manchester City se gostaram de ver o United a ganhar a Champions ou se os do Real apoiaram o Barcelona no mundial de clubes! Considero que, em certa medida, é elogioso, sempre é melhor do que a completa indiferença.

 

E para terminar o apogeu de Schadenfreude em vídeo:

 

 

 

 

 

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