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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Depois do JN/DN terem tido a coragem de fazer a entrevista do ano à Popota, as fontes do Dois Olhares conseguiram obter a entrevista de 2012. Todos se lembram do Vitinho, mas onde é que ele está, o que fez...

 

Dois Olhares: Boa noite, Vitinho.

Vitinho: Boa noite.

 

DO: Deve ouvir muitas vezes esta frase.

V: (risos) sim, muitas vezes mesmo. Qualquer altura do dia ouço essa frase, já nem sei o que é "Bom dia" ou "Boa tarde"...

 

DO: Incomoda-o?

V: Agora já não, percebo que é o carinho das pessoas. 

 

DO: Mas conte-nos como tudo começou?

V: Bem, eu tinha 10 anos e fui fazer um casting com a minha mãe para uma publicidade de comida de criança...uma coisa pequena...bem e o resto como se costuma dizer é historia.

 

DO: Fui um sucesso tremendo.

V: Foi enorme, nem sabia que era suposto ser transmitido todos os dias, naquele instante a minha mudou completamente. Deixei a escola, comecei a fazer espectáculos por todo o país, o meu pai acompanhava-me....andámos na estrada durante três anos sem parar, conhecemos Portugal inteiro.

 

DO: E depois chegou a tragédia?

V: Sim..tinha um espectáculo em Olhão, na noite anterior tinha tido um em Nazaré..naquela época ainda não havia auto-estradas por todo o lado, as viagens eram muita cansativas...o meu pai estava a conduzir o dia inteiro, eu estava a dormir no banco de trás...de repente ouvi um grande estrondo e bati no banco, perdi os sentidos, quando acordei descobri que o meu pai tinha adormecido ao volante e morrido naquele instante.

 

DO: Foi muito duro?

V: Claro, tínhamos ficado muito chegados...a partir daí foi muito complicado continuar a fazer espectáculos, tinha que fingir que dormia todas as noites, o que me só fazia lembrar a morte do meu pai...por isso comecei a beber para tentar esquecer e continuar com os espectáculos...

 

DO: Mas que idade tinha? Como conseguia arranjar o álcool?

V: Hum..14 anos...Oh, era muito fácil..naquela altura era o rei, não pagava nada, sempre que ia pagar as pessoas diziam-me "Boa noite, Vitinho" e lá ia eu...

 

DO: E os espectáculos sofreram com esse comportamento?

V: Claro...muitas vezes nem me aguentava de pé...aquilo era para as crianças, os pais ficavam chateados, pediam o dinheiro de volta...Aí felizmente acabaram os espectáculos...

 

DO: E o que fez nessa altura?

V: Fiquei à espera de outros convites...mas naquela altura não havia assim tanto trabalho para actores, não havia a produção nacional que há agora..surgiu-me a hipótese de gravar um novo anúncio..fiz mais três em três anos seguidos, tiveram um enorme sucesso mas fiquei preso naquela personagem, tinha dinheiro mas não tinha futuro...

 

DO: E nessa altura sofre uma nova depressão?

V: Tinha dinheiro..mas estava muito infeliz, comecei a gastar muito dinheiro em festas, as famosas festas de pijama do Vitinho..droga, álcool, mulheres..foi uma época muito complicada, muitos abusos...

 

DO: Mas o dinheiro acabou?

V: Sim e fiquei sozinho com os meus vícios, comecei a viver na rua, já ninguém me conhecia, bati muito fundo...

 

DO: E como conseguiu sair dessa situação?

V: Foi com ajuda da minha actual companheira, reconheceu-me na rua, aconchegou-me e desejou-me boa noite (risos)...ajudou-me a ficar limpo, ainda vou a reuniões todas as semanas...Arranjei emprego na Colunex do Colombo e estou a tirar o 9º ano nas Novas Oportunidades...

 

DO: Gostava de regressar à televisão? Qual é o seu sonho?

V: Já não, esse mundo já não é para mim...mas adorava trabalhar na secção dos quartos do IKEA. 

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