Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Nas próximas semanas, em relação às legislativas que se aproximam, presumo que se ouvirá várias vezes a famosa frase: "Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude". 

 

Se é quase certo que se assistará a uma alteração do 1º Ministro e das cores governativas, em termos de medidas tudo ficará como está: austeridade até à chegada do FMI, que trará ainda mais austeridade. Face a isto, ouvem-se vozes a pedir um governo de salvação nacional, o que faz todo o sentido, dividir as migalhas pelo centrão.

 

Na rua, com resignação e um baixar de braços, ouve-se: "Não há alternativas!". Na Grécia e na Irlanda vemos o nosso futuro e continuámos a percorrer, lento mas seguro, o mesmo caminho, o abismo chama-nos. 

 

Nesta altura é fundamental que os partidos de esquerda não receiem ter poder, o que implica capacidade e sobretudo vontade para fazer concessões, negociar, ultrapassar dogmas, deixar de ser intransigentes e não esquecer que o óptimo é inimigo do bom. Ser simplesmente treinador de bancada é fácil, cómodo, sem riscos mas inoperante.

 

Ao mesmo tempo, torna-se necessário repetir ad nauseam que a presente crise teve origem na desregulação dos mercados, do sistema financeiro, o que levou ao anúncio em 2009 da morte do neo-liberalismo. No entanto, tal como a morte de Poe, este anúncio foi precipitado; e a solução da crise tem passado por uma agenda neo-liberal, assente na ideia do trickle-down: uma maior desregulação, privatizações, liberalização da legislação laboral, destruição do estado social, redução dos salários.

 

Quando na verdade a solução teria que passar por corrigir os mecanismos de uma moeda única insustentável, como defende este perigoso comuna e confirmado pelo gráfico infra, retirado do blog do Paul Krugman

 

Um dos episódios que marcaram as últimas eleições foi a dificuldade que alguns eleitores tiverem para obter o novo n.º de eleitor após a emissão do cartão do

cidadão em virtude das falhas nos serviços electrónicos, dificuldade que felizmente não tive.

 

No entanto, para mim este episódio é sobretudo um exemplo perfeito de um dos maiores problemas que temos em Portugal: a falta de responsabilização pessoal. Enquanto isto se passava toda a gente queixou-se do Governo, da sua incompetência, e foram pedidas demissões. Eu não quero defender o Governo e é verdade que as entidades competentes deviam ter acautelado estas situações, mas e o Povo, pá!?

 

Não foram eles que, como bom português, deixaram essa consulta para a último segundo antes da votação, não foram eles que se esqueceram em casa da carta que foi enviada pela Direcção-Geral de Administração Interna com o n.º de eleitor após a emissão do cartão do cidadão*.

 

É altura de sairmos da saia da Mãe-Estado sob pena de continuarmos a ser tratados como crianças, sempre ansiosos de uma figura tutelar. É altura de crescer como sociedade e como cidadãos para que o resultado não seja este: dois autocratas no poder.

 

 

* Não sei onde a guardei mas não culpo os outros pela minha incúria.

Perdi. Perco sempre. Apenas uma única vez estive perto da vitória: quando fui obrigado a abster-me por falta de documentação, em virtude de ter sido alvo de um furto.

 

O dia das eleições começa normalmente risonho.

 

Em primeiro lugar, existe a feliz coincidência de calhar num domingo (ao contrário de outras democracias menos desenvolvidas que teimam em fazer eleições em dias da semana), dia de descanso, pelo menos descanso matinal o que permite processar o álcool ingerido na véspera, evitando, desse modo, que o voto seja considerado nulo por ter sido efectuado a cruz no quadrado da visão dupla.

 

Em segundo lugar, gosto do ambiente dos locais de voto, todo aquele espírito cívico alegra o meu espírito democrata e reforça o meu optimismo quanto ao resultado final.

 

No entanto, às vinte horas em ponto todo este optimismo se transforma no travo amargo da derrota, sendo que há algumas eleições mais amargas que outras: as últimas autárquicas e estas presidenciais custaram mais a engolir. O que me custa mais não é o facto de perder eleições mas sim aperceber-me nestes dias que existe um fosso tão grande entre mim e a maioria dos meus compatriotas, uma diferença abismal sobre questões essenciais quanto ao rumo que como sociedade deveremos seguir.

 

Nos próximos anos Portugal será atingido por uma grave crise social sem precedentes na história recente. A única forma de a combater é com um espírito de solidariedade, que não se confunde com a caridade por muito que custe ao Presidente eleito. É nestas alturas que o Estado tem que aparecer forte, contrariando com pedagogia a tendência natural da inveja e egoísmo que estes tempos acarretam.

 

Infelizmente, não foi essa a escolha. Escolheu-se um Chefe de Estado que se demite das suas obrigações ao conduzir as pessoas para a instituições de solidariedade fora do estado, que se queixa da pensão baixa da primeira dama, que nos pede para sofrermos calados para não arreliar os mercados, e que considera o escrutínio como baixa política.

 

Muito se escreveu que o Candidato Coelho era a sul-americanização da política portuguesa mas, nestas eleições, quem ganhou foi novamente a demagogia da seriedade.

Na pausa de almoço, dois operários conversavam nas vigas do 17º andar de um arranha-céus em construção:

"Qual é o teu almoço de hoje?"

"Hum..pão com manteiga."

"Outra vez, mas não foi o que comeste ontem?"

"Tens razão, sempre a mesma coisa, já estou farto, se amanhã for a mesma coisa juro-te, pela memória da minha mãe, que me atiro daqui abaixo".

No dia seguinte, o primeiro operário faz-lhe a mesma pergunta. O outro abre lentamente a marmita e encontra o malfadado pão com manteiga e, de imediato, quase sem pensar, atira-se contra o asfalto 17 pisos abaixo.

Algumas horas depois, a polícia chega a casa da mulher do operário falecido para dar a trágica notícia e pergunta se recentemente o marido estava mais abatido, ou se havia reparado em alguma mudança de humor que pudesse explicar uma tal decisão.

"Não, nem pensar!", disse ela. "Hoje até acordou bem disposto, tomou o pequeno-almoco, e depois, como o faz todo os dias, preparou o almoço dele".

 

Esta anedota faz-me lembrar aqueles que criticam os partidos, os políticos e o estado das coisas mas que se esquecem que eles é que continuam a fazer pão com manteiga ou manteiga com pão. Por isso nas presidências voto Coelho para o poleiro!

Um dos pilares da democracia é a informação, sem a existência de um eleitor informado não haveria eleições. Esta proposição explica a tendência das ditaduras evitar a todo o custo a difusão de ideias, a proibição de livros, etc.

 

No entanto, numa série de estudos conduzidos em 2005 e 2006, pesquisadores da Universidade de Michigan descobriram que quando indivíduos eram expostos a factos, estes raramente alteravam a sua opinião, bem pelo contrário, estes tornavam as suas opiniões ainda mais fortes. Concluíram, então, que em vez de serem os factos conduziram as nossas opiniões, são, pelo contrário, as nossas crenças a ditaram os factos que escolhemos aceitar, ou distorcer os factos de forma a serem encaixados nas nossas opiniões, levando mesmo a aceitar acriticamente má informação apenas porque reforça as suas crenças, o que em contrapartida torna-nos mais confiantes que estamos certos. E depois?, depois votamos*.

 

Finalmente encontrei a explicação para o sucesso do Prof. Cavaco Silva nos diversos sufrágios a que foi submetido. Mas ainda há esperança que o candidato chegue aos 70%: a Visão só sai na quinta-feira, trazendo mais notícias sobre a relação SLN/Cavaco; e até Sábado o candidato ainda terá que falar um pouco mais, força camarada estamos contigo!

 

 

 

* Retirado daqui.

Há uma clara contradição nas eleições em Portugal: nunca se vota para a eleição em si. Senão vejamos: para as europeias vota-se contra a actuação do Governo; para as legislativas vota-se no PM; para as autárquicas vota-se para reduzir a população prisional; no caso das presidenciais vota-se, quando possível, no PR em funções.

 

Sucede que, por força da constituição, nem sempre é possível votar no PR em funções. Nessas ocasiões escolhe-se para um órgão representativo alguém que se apresenta com ideias de governação: basicamente existe um desfasamento entre as aptidões apresentadas e o cargo, procura-se um porteiro e apresentam-se a votos supostos "governantes".

 

 

 

 

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2010
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2009
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2008
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2007
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D