Não raras vezes sou acusado de ser incoerente: alio um confesso desinteresse por tudo o que seja patriota1 a um orgulho pueril das belezas da minha terra, em especial da minha cidade.
Se é verdade que a coerência é o último refúgio dos que não têm imaginação (conforme dizia Wilde), não me parece que, neste caso, exista qualquer tipo de incoerência da minha parte. Este orgulho prende-se com a coisa em si, não com a sua localização geográfica, da mesma forma que quando lemos, vemos ou ouvimos algo excepcional temos aquele impulso de divulgar, partilhar com os demais.
No último sábado, ainda saciado de pipocas e de quatro golos no Dragão, fui confrontado com uma discussão sobre o local ideal para habitar: uma opinião paupérrima defendia que esse seria Vila Nova de Gaia (fundamentando com a vista sobre o Porto!).
A mim não me convencem. Qualidade de vida é, numa tarde amena de domingo, percorrer em bicicleta o parque da cidade, Matosinhos e a Foz, com pausa no Doce Mar para carregar baterias e ver o pôr-do-sol (sim. Mesmo com o desconforto do selim).
1 - Este desinteresse manifesta-se sobretudo com a exacerbação dos feitos, alguns sem dúvida notáveis outros nem por isso, dos portugueses além fronteiras e a colagem dos mesmos ao país. Rapidamente este desinteresse transforma-se em raiva sempre que se ouve o ar de alívio dos jornalistas quando não existem vítimas portuguesas em locais de desastre.