A revista Time elegeu Mark Zuckerberg, criador do Facebook, como a personalidade do ano enquanto que Assange, criador do Wikileaks, será o principal candidato no próximo ano. Entretanto, em Portugal, o programa de maior sucesso chama-se "Casa dos Segredos", cujo canal de cabo é igualmente dos mais vistos. Existe um ponto comum nestes três factos: a divinização da verdade e da transparência. Sucede que nem a verdade nem a transparência é em si um valor absoluto.
(Pausa para assimilar, com a mesma expressão que irrompeu da face da Judite de Sousa quando confrontada com a confidência de Noronha de Nascimento de que o direito à informação não era o principal direito na sociedade)
A verdade nua e crua é incompatível com a compaixão, com a vida societária e as regras não escritas que a acompanham. Em contrapartida, o seu contrário, i.e., a mentira e simulação constante impediriam o relacionamento pessoal. Que comprimido? Azul ou vermelho? Será possível valorar uma acção sem ter em atenção o seu resultado? Em caso afirmativo como não cair num relativismo perigoso? A resposta é a de sempre: voltar aos clássicos, sempre os clássicos.
A virtude para o Aristóteles é o meio-termo.
No caso da wikileaks deveria ser utilizado o esquema "salsicha": a receita e produção da salsicha deve permanecer secreta a menos que exista alguma ilegalidade, sob pena de nunca mais a conseguirmos consumir.
Pensar que a diplomacia funda-se na verdade (nova pausa para assimilar) não é apenas ingénuo mas idiota: imagine-se um diplomata americano encontrar-se com o "querido líder" da Coreia do Norte e expressar com total verdade o que pensa sobre ele. Afigura-se que não se augura um resultado nada agradável desta diplomacia da verdade e da transparência.