Porque sim
Não há criança/adolescente que nunca tenha ouvido um "porque sim". Esta frase irritante, que poderia adoptar diversas formas (ex: porque eu mando), marcava o fim de qualquer discussão, todos os argumentos esbarravam nesta intransigência do poder paternal.
No entanto, este poder é marcadamente autoritário, um despotismo iluminado e é conveniente que assim seja, pelo que uso regado deste instrumento não é so necessário como imprescindível para o bom funcionamento da família.
Sucede que se vive actualmente um período de "porque sim" na política. As medidas diariamente anunciadas revestem um manto de inevitabilidade, o que esvazia qualquer debate possível.
Ora, um sistema democrático saudável não pode proceder desta forma, descurando a argumentação ou partindo de uma conclusão falaciosa, que é a inexistência de alternativas.
Se numa primeira instância esta estratégia pode colher frutos, a médio e a longo prazo provocará uma erosão das bases da democracia, porque estará a excluir do debate público todos aqueles que discordam do caminho traçado. Estes olharão para o sistema como algo ineficaz a necessitar de uma profunda reparação pelo que o tentarão combater ou refundar externamente (ex: os movimentos a favor de uma democracia mais directa).