O calor amolece-me. A partir dos 25º Celsius fico tal e qual como os relógios de Dali: a derreter em passo lento sobre as cadeiras das esplanadas. Bebida atrás de bebida mostram-se incapazes de matar a minha sede. Fujo do Sol como os vampiros ou como o Rui Pedro Soares. Tento passear na sombra: aldeias de pedra, fortificações e castelos obsoletos pelo tempo.
O tempo é implacável, não perdoa; simplesmente ajuda a perdoar. A história pesa sobre estes locais. Há silêncio. Evita-se o levantar a voz, as palavras são proferidas em surdina entre disparos do obturador. Leio na vertical as notícias. Fecho o jornal: as notícias de ontem não mudaram. Levanto os olhos para a paisagem e, na esperança que a próxima tenha sucesso, peço outra bebida.