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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Houve um partido que foi contra a integração no euro nos moldes em que foram feitos. Esse mesmo partido foi contra a nacionalização do BPN. Esse mesmo partido foi contra os últimos PEC's. E agora o centro-direita diz que a culpa da actual situação é de todos?! Haja lata.

 

 

 

 

Conforme referi neste artigo a identidade* é de construção lenta, e foi assim que a actual identidade do FC Porto foi construída. A chegada da dupla Pedroto/Pinto da Costa nos idos anos 70 marca o início, a primeira pedra desta empreitada: um novo discurso e uma nova atitude com o fim da subserviência perante o statu quo; a ideia da união de grupo, um grupo cercado de inimigos e de adversidades, que apenas sendo muito melhores, com esforço e trabalho, consegue alcançar a vitória.

 

Decorrente deste discurso surgiram diversos elementos que ajudaram na construção e consolidação desta nova identidade.

 

O primeiro elemento é "o jogador à Porto". O "jogador à Porto" é uma construção mítica mas um conceito já utilizado por treinadores quer do Sporting quer do Benfica: um jogador antes quebrar que torcer, incansável, que compensa a sua falta de elevado requinte técnico por uma enorme vontade e garra. Por este motivo, o Tribunal das Antas/Dragão é muito exigente a jogadores dotados tecnicamente que arriscam na finta, conforme era o Quaresma e agora o Hulk. 

 

O segundo elemento é a ideia de "underdog". Apesar de nos últimos 20 anos o FCP ter vencido 14 campeonatos nacionais, continua a ver-se a si mesmo como o "contender", o que está ainda atrás do sucesso. Por este motivo, as principais criticas dos portistas ao clube quando perde consiste no seu suposto "aburguesismo", que se teria acomodado no seu sucesso. 

 

Uma das desculpas utilizadas para o apagão do último clássico era de que, nas mesmas circunstância, o FCP teria feito muito pior. Discordo.

 

Por um lado, essa ofensa, porque seria o "inimigo" a vencer na casa do grupo, nunca seria permitida, como se verificou na temporada passada - e, nessa altura, bastava apenas um empate ao SLB -, jogando com um jogador a menos, venceu por 3-1.

 

Por outro lado, caso acontecesse presumo que os jogadores seriam obrigados a ver os festejos: no dia em que foi apresentado ao plantel por Pinto da Costa. Estavam os jogadores à espera do sucessor de Jesualdo Ferreira quando, no LCD que o novo técnico mandara, entretanto, instalar no balneário (e noutras áreas de acesso restrito), começaram a passar as imagens da festa do título do Benfica, no dia em que a Luz, na recepção ao Rio Ave, lotou para receber a taça de campeão. No vídeo viam-se Jorge Jesus e os futebolistas aos pulos no palco montado no relvado, enquanto tentavam, radiantes, acompanhar o We are the champions.

 

* A identidade não é sinónimo de realidade.

Na sua cama improvisada, coberta de cobertores sujos e rasgados, Denisovich acorda doente. Levanta-se a custo. Cumpre o castigo por ter-se deixado dormir alguns minutos. No exterior, com temperaturas negativas, trabalha arduamente, acompanhado da sua equipa, até ao fim do dia. Condenado a dez anos de trabalhos forçados por um crime que não cometeu, Ivan não se queixa: não pode mudar nada, resta-lhe tentar sobreviver como pode porque tem a noção que as coisas podiam ser bem piores. Adormece feliz por ter tido um dia de trabalho proveitoso, o livro acaba.

 

O FMI chegou, e, não sei porquê, lembrei-me deste livro de Soljenítsin. A mente humana tem por vezes coisas estranhas.

 

Costuma-se dizer que os ratos são sempre os primeiros a abandonar o navio. E é o que me apraz dizer quando ouço os apelos dos banqueiros, que reunidos à porta fechada, decidiram, sem apelo nem agravo, o futuro do país. As eleições são apenas decorativas porque, como diz a Manuela Ferreira Leite, "quem paga é quem manda". As normas europeias, ao impediram o financiamento dos Estados através dos BCE, conduziram a que o poder estivesse do lado dos mercados.

 

O mais surreal desta história toda é que quem incendiou o navio foram os banqueiros e agora, por arte mágica, transformaram-se em fiscais e acusam os bombeiros de ter provocado as inundações

 

Mas o que terá mudado nas últimas semanas para este apelo dos banqueiros? O problema de Portugal, apesar de muito dinheiro mal gasto, nunca foi uma questão de dívida pública mas sobretudo a dívida privada e o financiamento dos bancos, como afirma o Director-Geral do FMI. E esse problema e

 

Apesar de todos os factos conhecidos, as opiniões dos banqueiros são sempre tratadas com muito respeito, emitidas essencialmente por pessoas sérias, a pensar no bem comum. Enquanto que as opiniões de lideres sindicais são facciosas, querem é o bem bom deles.

 

Uma questão de percepção, portanto!

 

Ó i ó ai, Quando se embebeda o pobre 
Ó i ó ai, Dizem, olha o borrachão 
Ó i ó ai, Quando se emborracha o rico 
Acham graça ao figurão

 

A característica mais importante de qualquer clube é a sua identidade. De tal forma que o maior receio actual dos sportinguistas não é ficarem no quarto lugar, ou pior, a mais de trinta pontos do campeão mas a belenização do clube.

 

A identidade, mais do que as vitórias, é o que permite a angariação de adeptos. As vitórias são um instrumento para obtenção de uma identidade ganhadora, mas como só ganha um de cada vez os clubes não podem depender apenas dessa característica. Aliás se fosse assim, não haveria adeptos de outros clubes que não dos três grandes ou por exemplo os LA Clippers não teriam qualquer adepto. 

 

A identidade é algo que demora anos, décadas a criar mas que pode ser rapidamente destruída com algumas condutas menos ajuizadas. Ora, o que se assistiu no clássico do último domingo foi a perca da identidade de uma grande instituição que é o Benfica. 

 

O Benfica, durante largos anos, criou a sua identidade: um clube popular, em contraponto com o elitismo do Sporting, que apesar de originário de um país pequeno, periférico, fechado sobre si mesmo, dava cartas na Europa; que conseguia bater-se de igual para igual com os colossos europeus como o Real Madrid ou Man Utd, conduzindo a que, apesar das rivalidades, tivesse o enorme respeito dos adversários e criasse até divisões entre os adeptos dos próprios clubes que o defrontavam (há não poucos anos, no antigo Estádio 1ª de Maio, era usual os adeptos do Sporting de Braga apoiarem ambos os clubes).

 

A certa altura, com as vitórias a escassearam, foi necessário a criação de uma narrativa, apoiada por certos órgãos de comunicação social, em virtude de necessidades comerciais, de forma a desresponsabilizar os seus dirigentes. Essa narrativa afirma que a vitória do clube, o mais maior clube do mundo, era o estado normal, um direito adquirido e que apenas por razões ocultas isso não sucederia.

 

Se por um lado, essa narrativa impõe um exacerbamento das vitórias*, traduzindo-se, ao mesmo tempo, nos jogadores uma certa sobranceria, uma ideia de facilidade, a questão no domingo não era saber se havia vitória mas por quantos (Coentrão afirmou que seriam por 2 ou 3). 

 

Por outro lado, o Benfica transformou-se num clube aristocrata, desligado da realidade, que prefere apagar as luzes a enfrentar a derrota, focar a sua atenção nas contratações futuras a admitir erros. Com essa atitude as derrotas tornam-se num acontecimento vazio, porque daí não retiram lições para o futuro: "tudo está bem, não é necessário correr mais ou jogar mais, a culpa não foi nossa, nem há mérito do adversário, a culpa foi das arbitragens no início do campeonato".

 

Acresce que se esta mentalidade não for rapidamente corrigida, e subsistir a ideia de que a vitória é normal, perde-se a sede de sucesso, a vontade de ganhar e, sobretudo, a ideia de superação, que é o factor talvez mais importante num jogo de futebol, porque o "normal" pode ganhar jogos mas raramente ganham competições.

 

 

 

* A equipa maravilha, apenas sagrou-se campeão na última jornada, terminou o campeonato anterior com 76 pontos, enquanto que o FC Porto sagrou-se campeão à 25º jornada (faltam 5 jornadas, 15 pontos em discussão) com 71 pontos.

Ao ler este texto, interroguei-me sobre o que eu aprendi na escola.

 

Sempre me causou alguma perplexidade observar como a leitura obrigatória, em geral, conseguiam arruinar o gosto, o gozo que se devia retirar dessas obras. 

As aulas não deviam, nem devem, ser divertidas nem fáceis. Observar, porém, a forma como era leccionada literatura, sem paixão, com leitura em voz alta de passagens, usualmente as menos interessantes, com esquemas e quadros continua a causar-me calafrios.

 

Obras primas sem alma, reduzidas a sumários da Europa-América, o que corresponderia a ensinar que a quinta sinfonia do Beethoven inicia-se com três "sol" e um bi bemol.

 

Longe de mim estar a culpar os professores, mas, ao longo do caminho, a Escola perdeu o rumo: deixou de ter como objectivo ensinar para passar a ser uma simples preparação para exames.

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