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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Nos locais mais turísticos sucede um fenómeno interessante: o local transforma-se na visão que os próprios turistas têm dele, ou seja, para agradar aos visitantes, desejosos de beber o "típico", metamorfosea-se num simulacro do que era, perdendo com isso a sua autenticidade e o seu encanto. O que no início era a raison d'être da visita reduz-se ao longo do tempo a uma simples comodidade, um produto massificado e plastificado, com a consequente perca de qualidade.

 

A recente explosão, catalisado pelo Aeroporto Sá Carneiro e viagens low-cost, de turismo na cidade do Porto não terá ainda impacto suficiente para originar uma alteração fundamental na vivência da cidade. No entanto, se a tendência se mantiver poderá existir motivos de preocupação num futuro próximo: multiplicação nas principais artérias da cidade de lojas vendendo t-shirts alusivas à cidade do Porto, porta-chaves da Torre dos Clérigos, gomas com a forma de francesinha, argh!!!

 

Nasci em liberdade, vivi sempre em liberdade. Deste modo, recuso-me a falar desta data e do seu significado. Por muito que tente não consigo imaginar o que seria viver num Portugal acorrentado e em completa escuridão, trazida pelo manto negro de Salazar. Da mesma forma que, por muito que se tente, não se consegue colocar nos pés de alguém invisual ou surdo, apenas quem passou por aquela realidade pode com autoridade falar da falta de liberdade, da repressão, da fome.

 

Por vezes, perante as escolhas políticas que a democracia nos trouxe (os mesmos sempre a governar, alternância sem alternativa) apetece baixar os braços: escrever num blog ou discutir parece inconsequente, um desperdício. Um qualquer psicólogo diria que com esta crise atravessámos as cinco fases da dor: negação, ira, negociação, depressão e aceitação. 

 

Aceitei que a maior parte das pessoas apenas tenta viver em paz, sem grandes ideais ideológicos ou ideias políticas, adaptando-se como melhor sabem às vicissitudes do seu tempo. Se esta atitude irrita-me (se calhar ainda estou na fase da ira) como teria sido para os que, diariamente e durante quarenta e oito anos, combateram a ditadura verificar que grande parte da população era relativamente indiferente à sua luta, que resignaram-se à inevitabilidade da censura e do fascismo. 

Ao ler, ouvir e ver as notícias diária é quase impossível não chegar à conclusão de que o Mundo está todo maluco. Eu desconheço se há algum índice de loucura, de modo a permitir aferir da veracidade desta hipótese, mas o meu senso comum, e o meu conhecimento de maluquices, leva-me a considerar que o grau de maluquice é constante ao longo dos tempos. 

 

A questão é que neste tempo de alto grau de mediatização apenas os actos anormais são considerados dignos de notícia, dando enfoque ao famoso aforismo "a notícia é quando o homem morde o cão". O que acompanhado da ideia de que o tamanho dos títulos é que tornam a noticia importante levaram-nos a isto

 

Como é possível um pastor de uma congregação nos EUA com cerca de três dezenas de pessoas ser objecto de uma entrevista do mais importante semanário português? Um acto obscuro e xenófobo tem honras e atenções desproporcionadas, que resultam em outros focos de violência, que são, por sua vez, igualmente difundidos: quando os extremistas continuarem a ocupar o centro da atenção o Mundo vai continuar a ser louco. 

 

E agora algo completamente diferente (o verdadeiro Terry Jones):

 

 

 

 

Neste momento, Portugal está a ser alvo de bullying: estamos a ser insultado, tratados como um choninhas de óculos, o "bom aluno" a quem roubam o dinheiro de almoço. Os "nossos" lideres amedrontados calam, comem e ainda pedem desculpa.

 

É natural. A única forma de sermos respeitados é termos respeito por nós próprios, mas preferimo-nos auto-flagelar, como naquela cena do Sétimo Selo do Bergman.  

 

Sim, claro que também temos culpas. No entanto, não seria mal pensado retorquir àquele Finlandês, que perguntou a Passos Coelho se o almoço deste seria pago através dos seus impostos, que, se calhar, estava de férias com o dinheiro que os Portugueses gastam anualmente em Nokias, e que, nesse caso, nem achava mal sermos consumistas.

 

Se são assim os "nossos" lideres haverá hipótese para Portugal? Teremos a nossa coluna definitivamente quebrada: um mero servo sem opinião nem poder de decisão sobre os nossos destinos colectivos. A liberdade perdida e um simulacro de democracia: o nosso país transformado numa colónia da Alemanha.

 

O sangue derramado, as lágrimas vertidas, o sacrifício dos nossos antepassados na construção e independência do nosso país merecia mais respeito e memória: 900 anos de história esquecidos e vendidos por um punhado de euros. Não sou patriota, nem muito menos nacionalista, mas uma vez que todos estão a "defender" os seus povos, gostaria de ver os "nossos" líderes a defender o nosso, com actos corajosos e concretos, sem subserviências. 

 

Talvez o primeiro passo seja recuperarmos o respeito por nós próprios, por Portugal...

 

* Emiliano Zapata

When the rich plunder the poor of his rights, it becomes an example of the poor to plunder the rich of his property, for the rights of the one are as much property to him as wealth is property to the other and the little all is as dear as the much. It is only by setting out on just principles that men are trained to be just to each other; and it will always be found, that when the rich protect the rights of the poor, the poor will protect the property of the rich.

 

Thomas Paine


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