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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Nas próximas semanas, em relação às legislativas que se aproximam, presumo que se ouvirá várias vezes a famosa frase: "Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude". 

 

Se é quase certo que se assistará a uma alteração do 1º Ministro e das cores governativas, em termos de medidas tudo ficará como está: austeridade até à chegada do FMI, que trará ainda mais austeridade. Face a isto, ouvem-se vozes a pedir um governo de salvação nacional, o que faz todo o sentido, dividir as migalhas pelo centrão.

 

Na rua, com resignação e um baixar de braços, ouve-se: "Não há alternativas!". Na Grécia e na Irlanda vemos o nosso futuro e continuámos a percorrer, lento mas seguro, o mesmo caminho, o abismo chama-nos. 

 

Nesta altura é fundamental que os partidos de esquerda não receiem ter poder, o que implica capacidade e sobretudo vontade para fazer concessões, negociar, ultrapassar dogmas, deixar de ser intransigentes e não esquecer que o óptimo é inimigo do bom. Ser simplesmente treinador de bancada é fácil, cómodo, sem riscos mas inoperante.

 

Ao mesmo tempo, torna-se necessário repetir ad nauseam que a presente crise teve origem na desregulação dos mercados, do sistema financeiro, o que levou ao anúncio em 2009 da morte do neo-liberalismo. No entanto, tal como a morte de Poe, este anúncio foi precipitado; e a solução da crise tem passado por uma agenda neo-liberal, assente na ideia do trickle-down: uma maior desregulação, privatizações, liberalização da legislação laboral, destruição do estado social, redução dos salários.

 

Quando na verdade a solução teria que passar por corrigir os mecanismos de uma moeda única insustentável, como defende este perigoso comuna e confirmado pelo gráfico infra, retirado do blog do Paul Krugman

 

As reacções partidárias ao pedido de demissão do 1º Ministro e à eventual dissolução do Parlamento seguiram um tom comum, que se assemelha em tudo ao discurso que os país fazem quando informam os filhos que se vão divorciar: os portugueses não tiveram culpa deste desfecho, há uma confiança nos portugueses, nós, políticos, gostámos muito dos portugueses, tudo vai correr bem.

 

Será assim? Serão os portugueses inocentes? Seremos ingovernáveis?

 

Parafraseando Stan Lee: grande poder acarreta grande responsabilidade. E por alguma razão que não consigo compreender, os portugueses não apreciam muito a Responsabilidade: a responsabilidade de fazer escolhas, de optar. Os portugueses gostam é de agradar, o que explica porque somos considerados bons anfitriões - apesar de desconfiar de que se fosse do conhecimento geral a origem de tal termo não haveria razões para tanta satisfação. 

 

E deste modo preferem obedecer a escolher, preferem seguir a corrente lenta e certa a remar contra a maré, que alguém, de preferência estrangeiro, aponte o caminho. Querem que os políticos se entendam, caso contrário teriam que optar por um rumo; e por isso o centro, o centrão ganha sempre as eleições.

Os censos levam-me de volta aos primeiros dias de aulas, quando nos eram apresentadas umas fichas sócio-económicas para preencher: papel de má qualidade, sem espaço suficiente para incluir a informação solicitada. E no começo de todas as aulas, todos os anos, era aquilo. Porque é que não se limitava o preenchimento a uma ficha e depois tiravam fotocópias e distribuíam pelos vários professores de cada disciplina, é algo que nunca entendi.

 

E se naquela altura não gostava de perder tempo a preencher a mesma informação vezes sem conta, não gosto igualmente de perder agora tempo com os censos. Sobretudo porque não auguro qualquer efeito positivo, não vislumbro que da colecção dos inúmeros dados resulte em medidas concretas, medidas políticas que tentem transformar a sociedade que agora se analisa.

 

Na verdade, caso fosse esse o objectivo claro destes censos não se tentava mascarar falsos recibos verdes, transformando-o em termos estatísticos em simples trabalhadores por conta de outrem.  

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