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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Na passada sexta-feira, cumprindo a tradição, dirigi-me ao Rivoli, um enteado da actual CM Porto, que, qual gata borralheira, lavou a cara e engalanou-se para acolher a inauguração da 31ª edição do FantasPorto.

 

Nestes largos anos de Fantas vi muitos e bons filmes, uns menos bons e outros autênticas banhadas. Há um em particular que me marcou: um filme asiático, biográfico que retratava a vida de uma mulher, que não foi bafejada pela sorte. Muito resumidamente: nasceu cega, aos dois anos ficou surda e na véspera do seu casamento faleceu-lhe o noivo, entre outras desgraças.

 

O problema é que, a certa altura, todo aquele drama transformou-se em comédia: quanto mais uma tragédia se abatia sobre a protagonista, e recorde-se era uma história real, mais gargalhadas surgiam na plateia. Por muita compaixão que se possa ter há sempre um limite dramático a partir do qual é necessário usar um escape, uma gargalhada ou um pequeno aparte, de forma a tornar em última análise a vida suportável.

 

Bem sei que isto não é nada de novo: é até uma das regras básicas da dramaturgia, cujas regras infelizmente não acompanham a vida real, caso contrário haveria um número bem mais elevado de entregadores de pizza.

 

Em contrapartida esta regra também funciona ao contrário: a comédia a transforma-se em tragédia. Razão pela qual já não me rio quando olho para a situação actual do Sporting.

 

A ideia de categorizar, classificar e organizar é uma característica intrinsecamente humana, o que permite explicar a obsessão em arranjar denominações para gerações: temos a geração rasca, à rasca, nem nem, deolinda... 

 

Tretas, não existe uma geração. Ao mesmo tempo, confluem diversas sensibilidades, com interesses e aspirações dispares. Por exemplo, há diversas gerações 60's, acreditem, a maioria não era hippie com flores no cabelo; da mesma forma que a dos 50's não era predominante beatnik.

 

Na verdade, tenho tanto em comum com alguns espécimes da minha geração como com um Neanderthal, confesso até mais com este do que com aquele, felizmente. A extrapolação que se faz de algumas características individuais para se pintar todo um grupo, cuja característica comum, por vezes única, é o simples facto de ter nascido à volta do mesmo ano, é no mínimo exagerada. 

 

Como diria Marx (Groucho, não o Karl): Não quero pertencer a uma geração que aceita uma pessoa como eu como membro.

 

 

 

 

 

Aproveito o facto de sermos novamente destaque no sapo para pedir um milhão de visitantes. Não vamos deixar isto para depois. Chegou a hora de tomarmos uma atitude e visitar o blog, por um futuro melhor! Não subestimem o povo que começa a ter conhecimento do nosso blog.

 

 

Juro que se recebo mais um mail com aquela coisa populista, anti-democrática, parva, ridícula, do "um milhão pela demissão de toda a classe política", começo já aqui a dizer bem do Sócrates.

 

 

 

 

Meu caro amigo eu quis até telefonar 
Mas a tarifa não tem graça 
Eu ando aflito pra fazer você ficar 
A par de tudo que se passa


Aqui na terra tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll 
Uns dias chove, noutros dias bate sol


Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Durante o último campeonato do Mundo, os telespectadores criticaram o barulho criado pelas milhares de vuvuzelas. Apesar de tudo, aquele enxame de abelhas é bem menos irritante que os comentários televisivos nacionais que temos que aturar.

 

De todos (em sinal aberto) o menos mau são os da rtp: respeito profundamente alguém (Freitas Lobo) que segue os campeonatos nacionais até às distritais, os principais campeonatos da Europa, o campeonato do Brasil, Argentina, México, Japão sem entrar compulsivamente no Magalhães Lemos.

 

A seguir, num quase empate técnico com o último classificado, chegam os comentários da TVI. Eu sei, eu sei: o Valdemar "Fussil" Duarte, que a seguir à "Portuguesa" considera o Hino da Champions aquele que tem mais significado (TSF - 2010), percebe tanto de futebol como o Luis Campos, ou seja, abaixo de zero. E quando acompanhado pelo Querido Manha, que utiliza dados estatísticos tão pertinentes como indicar que ninguém falhava tantos penalties desde um jogo na "capital" de Marrocos em casa do Rabat de Cassablanca (TVI - 2010), faz-nos suspirar por um funil para verter azeite quente nos tímpanos. Conseguem, porém, sair do último lugar porque, pese embora serem menos isentos do que a Benfica TV, sabe-se o que são, ao que vieram e não se tentam esconder: é como ouvir o relato de amigos benfiquistas.

 

Em último lugar, são os comentários da SIC. Augusto Marques sonha com o Gaitán e as mães dos jogadores do Porto insistem em chamar aos filhos outra coisa, o que denota uma má vontade inqualificável. Nuno Luz. O que dizer deste jornalista, que desde que levou com balões de água dos jogadores da selecção nacional, nunca mais foi o mesmo.

 

Ontem, foi triste ver o Guarin destruir as expectativas dos comentadores da SIC. Na verdade, a culpa é minha: desconhecia as suas origens andaluzes, o que explica como conseguiram identificar o fora-de-jogo claríssimo do Rolando, ao mesmo tempo que foram céleres a perdoar o arbitro por não ter assinalado a carga do Kanoute.

 

Apesar de tudo, ontem felizmente não se verificou a "perfect storm" dos comentários televisivos: o tridente constituído por Augusto Marques, Nuno Luz e Rui Santos, que é indubitavelmente o comentador que percebe mais de futebol desde que o mesmo não seja praticado dentro de quatro linhas. Este tridente, para além de denotarem as características facciosas dos seus companheiros da TVI, esforçam-se por retirar todo e qualquer gozo ao jogo com referências quase obsessivas aos programas que se seguem naquela estação.

 

Voltem vuvuzelas, estão perdoadas.

Seguindo o repto lançado pelo JSP, procurei imaginar que tipo de música faria se tivesse talento. Infelizmente, foi uma busca em vão.

 

Pensei, primeiro, em Van Morrison, o criador do "celtic soul", alma de Yeats e voz de Blues, vinda directamente do delta de Mississipi: piano, guitarras, sax...Piano, guitarras, sax: a trave mestra do sublime "Exile On Main St.". Gravar uma obra prima numa cave de um chateau da Riviera Francesa, gosto da ideia. Stones? Se calhar preferia então os Beatles.

 

Não, não...Jazz. Charlie Parker, é isso, criar o Be Bop. Ou então, bater nas teclas, literalmente dar porrada naquele marfim como se não houvesse amanhã, e extrair dali melodia como fazia o Monk. E o dançar junto ao piano? Pois, não é para mim, sou mais introvertido. Nick Drake? Depressão sem contraponto de humor é insustentável. The Smiths? Palma? Dylan? Argh...

 

Não sei, vou ali ao cruzamento vender a minha alma como o Robert Johnson e já volto...

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