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Não raras vezes sou acusado de ser incoerente: alio um confesso desinteresse por tudo o que seja patriota1 a um orgulho pueril das belezas da minha terra, em especial da minha cidade.
Se é verdade que a coerência é o último refúgio dos que não têm imaginação (conforme dizia Wilde), não me parece que, neste caso, exista qualquer tipo de incoerência da minha parte. Este orgulho prende-se com a coisa em si, não com a sua localização geográfica, da mesma forma que quando lemos, vemos ou ouvimos algo excepcional temos aquele impulso de divulgar, partilhar com os demais.
No último sábado, ainda saciado de pipocas e de quatro golos no Dragão, fui confrontado com uma discussão sobre o local ideal para habitar: uma opinião paupérrima defendia que esse seria Vila Nova de Gaia (fundamentando com a vista sobre o Porto!).
A mim não me convencem. Qualidade de vida é, numa tarde amena de domingo, percorrer em bicicleta o parque da cidade, Matosinhos e a Foz, com pausa no Doce Mar para carregar baterias e ver o pôr-do-sol (sim. Mesmo com o desconforto do selim).
1 - Este desinteresse manifesta-se sobretudo com a exacerbação dos feitos, alguns sem dúvida notáveis outros nem por isso, dos portugueses além fronteiras e a colagem dos mesmos ao país. Rapidamente este desinteresse transforma-se em raiva sempre que se ouve o ar de alívio dos jornalistas quando não existem vítimas portuguesas em locais de desastre.
Não faz sentido uma Playboy sem nudez, assim como não faz sentido a censura a uma página de mulheres nuas de um tabloid sueco. O Steve quer a appstore "free from porn". Devia ser o consumidor a decidir o que quer. E eu quero mulheres nuas.
Há experiências verdadeiramente transformadoras, que modificam o nosso âmago e impedem que tudo volte a ser como antes: o nascimento de um filho, a guerra...
Hoje, precisamente às 14 horas e 23 minutos TMG*, vivenciei um desses momentos quando entrei nos 200m2 mais aterradores e pavorosos da minha, até, este momento, segura e confortável vida.
O dia, que havia começado como qualquer outro - pese embora ter acordado com sensação de segunda-feira, o que era expectável em face do feriado do dia anterior -, desenrolava-se lentamente, nuvens de cinza escuro emprestava à luz um tom pálido, gélido tipicamente invernal. Um pouco antes da pausa de almoço surge um convite para sushi, que inocentemente aceitei.
No entanto, viria rapidamente a descobrir que não há almoços grátis. Após o café um pedido: "acompanha-me a uma loja aqui ao lado". Embriagado pelo sabor de sushi fresco nas papilas gustativas não calculei os riscos e respondi irreflectidamente: "sim, claro".
Entretido em conversa amena e sem reparar no que estava defronte, entrei inadvertidamente na
(####AVISO####: Atenção: pessoas mais susceptíveis evitem ler o resto do post, a descrição pode provocar náuseas, enjoos e vómitos)
O rosa, tanto rosa, gatos, gatos e mais gatos, gatos por todo o lado. Os olhos do gato seguem-nos por todo o lado, nunca se ri, parece o Chucky mas capaz de aterrorizar o mais corajoso dos homens: fechei os olhos e corri, embati em algumas malas e galochas colocadas no meu percurso com o intuito de me fazer tropeçar, consegui manter o equilíbrio e cheguei cá fora ofegante e com apenas algumas escoriações mas felizmente são e salvo.
Tenham cuidado camaradas, a Hello Kitty está lá fora à vossa espera!
*Hora Média de Greenwich.
O síndrome do hamster é ainda mais pernicioso quando se verifica que a economia, o progresso económico deixou de ser visto como um meio para melhorar a vida dos cidadãos e transformou-se no (muitas vezes único) objectivo das políticas.
Conceitos novilínguos como "competitividade", "flexibilidade", "colaboradores" são usados para deteriorarem lentamente a qualidade de vida (os horários longos que obrigam a despejar os filhos de madrugada na creche, etc), enquanto se contrapõem a inevitabilidade de tudo isto, como se alguma lei física imutável se tratasse.
A raíz do problema centra-se na desvalorização progressiva do trabalho, visto apenas como um custo, inclusive um desperdício, que tem que ser suprimido ao mínimo. O trabalho deixou de ser visto como uma mais valia mas como um privilégio e não faltará muito até que os trabalhadores tenham que pagar para trabalhar. E, talvez tenha sido essa a única função da greve geral do passado mês: manifestar a importância, tantas vezes esquecida, do trabalho e dos trabalhadores.
No entanto, observar como a greve foi recebida, e, ainda mais importante, a diferença de tratamento entre as legítimas expectativas dos accionistas da PT e dos que auferem o ordenado mínimo comprova como esta é uma batalha longe de ser ganha.
Neste tempo de indefinição sobre que lado estar e sobre que batalhas combater seria importante afastar-nos da roda do hamster, respirar fundo e focalizar o debate político numa pergunta simples: esta medida aumenta ou diminui a qualidade de vida dos cidadãos. E contrariar Faulkner:
"Because no battle is ever won, he said. They are not even fought. The field only reveals to man his own folly and despair, and victory is an illusion of philosophers and fools."
Por vezes, quando estudava alguns (e não eram poucos) pedaços de história, era impossível não me interrogar como foi possível terem sido tomadas determinadas decisões sem que ninguém se apercebesse quão ridículas eram. Períodos como a grande depressão e as guerras mundiais, a forma como Portugal desperdiçou as riquezas trazidas pelos descobrimentos, a queda do império romano são apenas alguns exemplos.
E, infelizmente, temo que o período actual seja visto da mesma forma pelos nossos filhos e netos. As decisões que se têm tomado para combater a crise fazem lembrar um hamster a correr na sua roda. Corre, corre para acompanhar a roda, que, por esse impulso, é ainda mais veloz, e, quanto mais corre mais a roda acelera, o que dificulta, e obriga-o a correr ainda mais rápido, até que, por fim, é atirado com violência para fora da roda.
O mundial de futebol de 2022 vai-se realizar no Qatar (11,586 km2). Um país quase do tamanho das Asturias (10,604 km2) e mais pequeno que Timor Leste (14,874 km2) vai ter 12 estádios*.
Em média os estádios deverão ter lotação para 50 mil lugares, o que perfaz um total de 600.000 lugares. Estima-se que em 2009 o Qatar teria 835.924 habitantes.
Hum..Eu sei que lá não há elefantes, muito menos brancos, mas talvez não fosse má ideia que o Presidente da Câmara de Aveiro ou o de Leiria, ambos seria ideal, telefonassem para lá a avisar.
*Sicilia é mais do dobro com 25,700 km2.
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