"Teríamos de trabalhar mais de um ano sem comer, sem utilizar transportes, sem gastar absolutamente nada só para pagar a dívida"
- Ministro Nuno Crato
Por um segundo vamos imaginar que era possível sobreviver sem comer durante um ano. De imediato a maior parte dos cafés, restaurantes, mercearias, supermercados, hipermercados entravam em insolvência. Seguiam-se os seus fornecedores. As empresas de transporte ficariam sem clientes e com uma dívida galopante. Sem consumo não havia necessidade de publicidade, todos os media fechavam, empresas de marketing. Milhões de desempregados. Não será necessário dar mais exemplos para perceber que neste mundo imaginário de Crato a dívida não só não seria paga como se agravaria.
Sempre se poderá dizer que a frase de Crato não era para ser interpretada de forma literal, era uma metáfora para demonstrar o peso da dívida. Em qualquer dos casos esta intervenção é esclarecedora por dois motivos. Em primeiro lugar, demonstra a forma como o Governo percepciona o mercado interno como sendo um fardo. Em segundo, revela em todo o seu esplendor a visão estrita e causal das suas políticas, que nunca levam em linha de conta as consequências sistémicas que acarretam.