Se é verdade que o pensamento e a linguagem não se podem separar, porque a linguagem funciona como o suporte do pensamento. E que não há pensamento fora da linguagem, nem linguagem sem pensamento. Chega-se à conclusão de que um dos pilares da democracia - no sentido de debate de ideias - é o respeito pelas palavras (vd. "1984" de Orwell).
Ora, recentemente tem-se assistido a uma degradação do discurso político: o uso excessivo de eufemismos (ex: "ajuda externa"); a disparidade entre a palavra e acção (ex: "irrevogável"); comunicações contraditórias e ininteligíveis (ex: Cavaco Silva). Tal degradação impossibilita qualquer hipótese de diálogo.
No entanto, o insucesso das conversações de "salvação nacional" - mais um conceito exemplificativo da perversidade do discurso hodierno - não se reduz a esta impossibilidade de diálogo, mas sim à impossibilidade objectiva da mesma. Os problemas que afligem uma nação nunca poderão ser resolvidos, num simples passe de magia, com a realização de uma ou várias reuniões.
A herança do sebastianismo pesa sobre os nossos ombros, a espera de uma solução milagrosa mantém-se. Primeiro, eram os cortes nas gorduras do estado, agora é o consenso.
Este não é um apelo à resignação. Acontece que o primeiro passo pela resolução de qualquer desafio é reconhecer os limites da nossa acção e perceber que a realidade é complexa e interligada, e que muitos dos problemas nem sequer estão dependentes da nossa vontade.