No excelente documentário da Netflix sobre a grande Nina Simone é contado um episódio já quase um cliché do mundo artístico: a cantora, transtornada e alheada da realidade - pintava no camarim o cabelo com graxa de sapatos - é empurrada pelo seu marido controlador para o palco para mais uma actuação.
O fenómeno Pagliacci segundo o qual o artista é obrigado a esconder as suas angústias perante o público era limitado a esta classe profissional. No entanto, agora com as redes sociais o palco tornou-se universal. Cada um já não vai ter 15 minutos de fama como profeciava Warhol, a atenção é constante e neste contexto a perfeição é o mínimo aceitável. E é simbólico desta nova realidade o facto das fotos digitais, o principal veículo da "actuação", não terem negativos como tinham as analógicas. Tudo é positivo nem que seja preciso repetir inúmeras vezes as selfies até poderem ser publicadas.