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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Vivem-se tempos indefinidos, ou melhor, não se vivem, foram ultrapassados, está-se para além do tempo, tudo é pós: pós moderno; pós religioso; pós político; pós ideológico.

 

O nosso Zeitgeist é um vazio, uma ausência, a página em branco no fim de um livro. Nada acontece. Susta-se a respiração, hiberna-se em distracções várias e espera-se que este Inverno do descontentamento passe rápido.

 

A vida transformou-se numa infinita sala de espera, tudo é temporário, os cortes são temporários, os empregos temporários...

 

Enquanto se aguarda sobrevive-se: o entusiasmo substituído desolação; a coragem pelo medo oriundo da incerteza; a inocência pelo cinismo, ou, nas palavras de Lyotard “a incredulidade perante metanarrativas”.

 

A palavra não é um mero instrumento discursivo, uma ferramenta cujos respectivos sinónimos são equivalentes. Cada palavra transporta em si mesmo uma carga emocional, ideológica, em alguns casos, histórica que transcendem o seu significado literal.

 

Van Morrison fazia questão de destruir este poder: cantava em loop gloves loves loves gloves gloves loves gloves, triturava, mastigava como o Bexiguinha, as palavras até perderem todo o seu sentido, todo o seu poder, restando o som, a fonética, um simples mantra.

 

Instintivamente a nossa forma de pensar encontra-se dependente das palavras, que por sua vez depende da própria cultura que estamos inseridos, pelo que, em último grau, a cultura molda o nosso raciocínio, das situações mais simples às mais complexas.

 

Por exemplo, para uma tribo indígena (da América do Norte, salvo o erro) o tempo é percepcionado de forma oposta à nossa: o futuro encontra-se atrás de nós porque não o vemos, enquanto que o passado está à nossa frente porque já o vimos, o passado mais recente mais nítido e o distante cada vez mais difuso. 

 

À primeira vista esta perspectiva soa estranha, contra-intuitiva, errada. No entanto, não está errada nem a nossa o é, são apenas variações sobre o mesmo tema, mas que tem repercussões importantes na forma como o tempo é visto, sentido, como nos relacionamos com ele...

 

Se na nossa cultura o tempo fosse percepcionado da mesma forma como faz aquela Tribo, porventura seria dada mais atenção ao Passado, que está sempre defronte, cujo estudo seria essencial para perceber o Futuro; enquanto que o Futuro, por ser inteiramente incerto, seria visto com maior precaução, os passos teriam que ser seguros, cautelosos.

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