A palavra não é um mero instrumento discursivo, uma ferramenta cujos respectivos sinónimos são equivalentes. Cada palavra transporta em si mesmo uma carga emocional, ideológica, em alguns casos, histórica que transcendem o seu significado literal.
Van Morrison fazia questão de destruir este poder: cantava em loop gloves loves loves gloves gloves loves gloves, triturava, mastigava como o Bexiguinha, as palavras até perderem todo o seu sentido, todo o seu poder, restando o som, a fonética, um simples mantra.
Instintivamente a nossa forma de pensar encontra-se dependente das palavras, que por sua vez depende da própria cultura que estamos inseridos, pelo que, em último grau, a cultura molda o nosso raciocínio, das situações mais simples às mais complexas.
Por exemplo, para uma tribo indígena (da América do Norte, salvo o erro) o tempo é percepcionado de forma oposta à nossa: o futuro encontra-se atrás de nós porque não o vemos, enquanto que o passado está à nossa frente porque já o vimos, o passado mais recente mais nítido e o distante cada vez mais difuso.
À primeira vista esta perspectiva soa estranha, contra-intuitiva, errada. No entanto, não está errada nem a nossa o é, são apenas variações sobre o mesmo tema, mas que tem repercussões importantes na forma como o tempo é visto, sentido, como nos relacionamos com ele...
Se na nossa cultura o tempo fosse percepcionado da mesma forma como faz aquela Tribo, porventura seria dada mais atenção ao Passado, que está sempre defronte, cujo estudo seria essencial para perceber o Futuro; enquanto que o Futuro, por ser inteiramente incerto, seria visto com maior precaução, os passos teriam que ser seguros, cautelosos.