Não estarei presente na manifestação de 12 de Março, pese embora assistir com um certo gáudio à preocupação, algum terror até, de certos cronistas em relação a uma manifestação não organizada pelas associações e entidades tradicionais. Esta reacção faz-me lembrar aquele verso do Dylan:
Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won’t come again
And don’t speak too soon
For the wheel’s still in spin
And there’s no tellin’ who that it’s namin’
For the loser now will be later to win
For the times they are a-changin’
Porque se é certo que as mudanças sociais significativas tiveram como base a rua: sufrágio das mulheres, direitos dos trabalhadores, democracia, etc. Também é certo que as manifestações bem sucedidas tinham uma mensagem clara, forte com um objectivo bem delineado, enquanto que as manifestações difusas, como esta, de simples protesto encontram-se destinadas ao insucesso, correndo o risco de esvaziar um movimento de contestação, que poderia ter um papel fundamental no futuro do país.
Segundo os impulsionadores a base desta manifestação é a precariedade. Sucede que a precariedade não é um problema, ao contrário do que é defendido, geracional. Na minha actividade profissional deparo-me infelizmente com diversas pessoas nas casas dos quarenta, cinquenta anos, na sua maioria sem qualificações, que são precários. Pelo que não posso concordar que uma manifestação tenha como base um combate entre gerações: os que estariam supostamente instalados contra os jovens.
Por outro lado, os recibos verdes ilegais são, por incrível que pareça, ilegais. Desconheço qualquer decisão judicial que não tenha julgado a sua ilegalidade sempre que se encontrem preenchidos os requisitos de um contrato de trabalho: artigos 11º e 12º do Código de Trabalho. E se o protesto se deve à falta de fiscalização deixo, desde já, o contacto da Autoridade para as Condições do Trabalho.
A base deste descontentamento parte de um destroçar de um mito, de falsas expectativas que foram criadas e alimentadas durante anos a fio: a educação, a formação eram a base da felicidade, o el dorado; com educação não haveria problemas de desemprego nem salários baixos. Após anos e anos de estudo e sacrifício, os jovens com espanto e desilusão verificaram que afinal não é bem assim. Como escreveu o Nobel da Economia, Paul Krugman, "But there are things education can’t do. In particular, the notion that putting more kids through college can restore the middle-class society we used to have is wishful thinking. It’s no longer true that having a college degree guarantees that you’ll get a good job, and it’s becoming less true with each passing decade".
O que fazer?
Lutar. Ir para a rua. Pedir salários justos e dignos, com uma menor diferença entre os salários mais altos e os mais baixos, diferença essa que se vem acentuando nas últimas décadas. Valorizar o trabalho, de forma a ser deixado de ser visto com um custo mas como uma mais valia. Proporcionar aos cidadãos mais liberdade de forma a ser possível negociar com as entidades patronais condições mais justas. Lutar contra off-shores e outros desvios à igualdade fiscal...
A luta continua...