Em entrevista ao Público, Dijsselbloem, Presidente do Eurogrupo, defende que "os governos podem ir e vir, mas os programas e os ajustamentos continuam a ser necessários". Esta frase é mais um exemplo (vd. último discurso do PR de 25 de Abril) da visão pós-democrática que assola a Europa.
Como já escrevi aqui anteriormente, a falta de democracia transforma a política em anti-política: ao invés de corresponder a um processo aberto, dialético, no qual os cidadãos podem e devem participar, esta tornou-se num projecto de engenharia, em que cada problema comporta uma única solução. Por sua vez, arredadas as alternativas do espaço público, desaparece a democracia.
Por outro lado, em virtude do cargo que Dijsselbloem ocupa a sua comunicação tem um peso acrescido. Com efeito, tal expressão é reminiscente da "Doutrina Brejnev" que limitou a capacidade de manobra e liberdade dos governos dos países do Pacto de Varsóvia. Tal circunstância fez com que qualquer tentativa de mudança do statu quo parecesse fútil. Deste modo, a maior parte das pessoas acabou por adoptar uma postura de conformidade e de aceitação passiva, por outras palavras, chegou-se a um "consenso alargado".