Uma das grandes linhas de baixo de sempre da música pop/rock é a que aparece na "Taxman" dos Beatles e, depois, reciclada para a "Start" dos Jam. Na canção dos Beatles, Harrison queixava-se dos impostos porquanto naquela altura, para determinados rendimentos (os que os Beatles na altura auferiam não eram nada parcos*), a carga fiscal referente a imposto sobre o rendimento ascendia a 95%.
Ora, em Portugal, apesar de algumas queixas e muita demagogia, a taxa de imposto não atinge valores de tal ordem. E, devo confessar, que sinto um certo orgulho, um sentimento similar à aquele que possuo quando voto, ao liquidar as minhas obrigações fiscais. Podem-me chamar de anjinho (coisas piores agradecia que não), mas, nestas alturas, sinto que retribuo para a sociedade em que me insiro, e aquilo que me foi proporcionado por esta: educação, saúde, estradas, segurança, etc. As lamúrias que ouço faz-me lembrar aquela cena na "Vida de Brian" em que os revolucionários estão a discutir o que é os Romanos lhes deram.
É que para além destas funções, os impostos servem, ou deviam servir, para corrigir os desvios naturais do capitalismo e tornar a sociedade mais justa e menos desigual: o único caminho para uma sociedade mais livre, sem dependências, quer políticas quer económicas, quanto ao mínimo de sobrevivência; com igualdade de oportunidades para todos, não havendo limitações consoante o respectivo "berço".
O problema que se coloca não pode ser visto apenas do lado do montante referente a impostos que é despendido mas se o mesmo está a ser devidamente utilizado e se está a ser usado em proveito do bem comum, conceito demasiado genérico, eu sei.
Neste aspecto há um longo caminho a percorrer. A solução, porém, é olhar para os impostos não apenas como um dever mas com um sentido de comunhão, de pertença e, quem, foge ou evita pagar o que é devido, tem que ser visto com desprezo. Da mesma forma que são olhados aqueles penetras que vão a festas sem contribuir com uns míseros salgadinhos, sobrecarregando os demais.
* Aliás, em virtude dessa taxa os Rolling Stones viram-se obrigados a emigrar para França, o que culminou na sua obra prima "Exile on Main Street".