"o acaso, o livre arbítrio e a necessidade, que de algum modo são incompatíveis, mas se entrelaçam e trabalham juntos. Então, o que existe é a franca urdidura da necessidade, que não deve ser desviada de seu curso, pois seus próprios movimentos alternados tendem somente a isso. O livre arbítrio, ainda livre para fazer sua lançadeira transitar por entre os fios escolhidos e o acaso que, apesar de limitado em sua acção pelas justas linhas da necessidade e desviado de seus movimentos pelo livre arbítrio, parece governado por ambos, porém reina sobre os dois e tem a última palavra nos factos."
"Moby Dick" - Herman Melville
Discute-se muito se o Governo é o mais liberal da nossa história, mas o que não há dúvida é que é o mais microgerente.
O Governo esqueceu-se de dois dos fios que tecem a vida: acaso e a necessidade. Julgam que tudo o que acontece está sob o seu controlo e dependência (ex: o lamentável episódio do Sec-Estado da Cultura com a Alexandra Lucas Coelho).
E, se algo não ocorre como planeado, há um ressentimento, como sucedeu em relação ao salário nos privados que, segundo o Governo, não teria descido como deveria ou à venda de automóveis que desceu acima do esperado.
A multiplicação de grupos de trabalho e respectivos relatórios, o foco na burocratização e centralização de decisão são sintomas da sua obsessão na microgerência, que nem a vida privada dos governados escapa. Assim como o ênfase em metas e objectivos triviais que não reflectem qualquer progresso ou melhoria das condições de vida ("vida das pessoas não está melhor, mas a do país está").
Num mundo global calhou-nos na sorte um Governo do século XVII.