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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Em entrevista ao Público, Dijsselbloem, Presidente do Eurogrupo, defende que "os governos podem ir e vir, mas os programas e os ajustamentos continuam a ser necessários". Esta frase é mais um exemplo (vd. último discurso do PR de 25 de Abril) da visão pós-democrática que assola a Europa.

 

Como já escrevi aqui anteriormente, a falta de democracia transforma a política em anti-política: ao invés de corresponder a um processo aberto, dialético, no qual os cidadãos podem e devem participar, esta tornou-se num projecto de engenharia, em que cada problema comporta uma única solução. Por sua vez, arredadas as alternativas do espaço público, desaparece a democracia.


Por outro lado, em virtude do cargo que Dijsselbloem ocupa a sua comunicação tem um peso acrescido. Com efeito, tal expressão é reminiscente da "Doutrina Brejnev" que limitou a capacidade de manobra e liberdade dos governos dos países do Pacto de Varsóvia. Tal circunstância fez com que qualquer tentativa de mudança do statu quo parecesse fútil. Deste modo, a maior parte das pessoas acabou por adoptar uma postura de conformidade e de aceitação passiva, por outras palavras, chegou-se a um "consenso alargado".



A minha raiz tripeira não só me faz olhar para o insulto com alguma bonomia como chega a elevar um bom impropério a arte. E, neste aspecto, nada chega aos pés de um toast efectuado pelo grande Don Rickles.

 

Em Portugal, porém, existe um medo congénito do rídiculo, um receio de ser gozado. Já no "Poema em linha recta", Fernando Pessoa questionava Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 

 

Inseguros, sobretudo os políticos, levam-se demasiado a sério, temerários das aparências, o que é, na falta de conteúdo, aquilo que sobeja.

Tal como o Woody Allen eu também considero que as melhores lições de vida são reveladas em velhas anedotas, como aquela em que dois jovens peixes estão a nadar tranquilamente no oceano quando passam por um outro peixe mais velho, que lhes acena e diz "Bom dia, rapazes! Como está a água?" Os dois peixes continuam a nadar até que um olha para o outro e pergunta "Mas que raio é água?"

 

Pode-se continuar a debater com afinco as contradições do Paulo Portas; o alargamento de um ou dois anos a idade da reforma. O que não se pode perder de vista é a água. 

 

Ora, a falta de oxigenação e o nível de acidez do discurso político (peço desculpa por manter a mesma metáfora) transforma o espaço público num ambiente tóxico: o sentimento egoísta prevalece sobre a compaixão. Agudizou-se a divisão e o confronto entre pensionistas e trabalhadores; entre público e privado; entre pobres e remediados. 


Um passe de magia até poderá impulsionar a economia de um dia para o outro, acabando com a crise, mas estas cicatrizes vão de certo durar muito mais tempo, se é que chegam, a sarar.

Segundo Samuel Johnson "Há dois tipos de conhecimento: sabemos sobre um assunto, ou sabemos onde podemos buscar informação sobre ele."


Actualmente, vive-se um tempo único: todo o conhecimento universal está à distância de um click. Acabaram as teimas intermináveis de noites regadas a álcool; não mais temos que viver com aquela sensação de ter um nome de um actor, filme ou música na ponta da língua.

 

Desde os tempos de Gutenberg que não existia um salto tão extraordinário na facilidade de aprendizagem. E, no entanto, o nosso sistema educativo não adoptou este novo "paradigma", continua agarrado à monocultura de exames. Esta obsessão transforma a educação numa exaustiva e redondante preparação para testes.

 

Presumo que seria diferente se Nuno Crato soube-se que mais importante do que os livros lidos são os que ainda não o foram. 

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