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Num tempo de exacerbado consumismo não deixa de ser peculiar esta obsessão pelo custo. Tudo é custo. O salário de um trabalhador é custo. A construção de infra-estruturas são um custo. Pesquisa é um custo.
O problema das obsessões é que se fixam numa determinada coisa e tal como acontece com uma objectiva deixam tudo ao redor desfocado, designadamente o respectivo benefício.
Este benefício também não poderá ser reduzido a uma perspectiva imediata, utilitarista, mas visto numa perspectiva sistemática. Infelizmente parece que a actual geração de políticos e "empresários" foram criados a ler revistas do Tio Patinhas.
Quando comecei a ver televisão só havia dois canais. Depois cresci e argumentaram deviam exitir canais privados porque isso iria aumentar a competitividade e tornar a televisão melhor. Resultado: vinte anos depois os telejornais arrastam-se por mais de uma hora, o horário nobre é constituído por blocos de telenovelas consecutivos, reality shows e outros programas de gosto duvidoso.
Quando comecei a guiar o preço da gasolina era fixado pelo governo. Passado algum tempo argumentaram que a liberalização dos preços iria trazer competição e os preços desceriam. Resultado: não há verdadeira concorrência, o preço da gasolina bate recordes bem como os lucros da Galp.
Quando comecei a estudar não havia propinas no ensino superior. Depois cresci e argumentaram que as propinas eram essenciais para melhorar a qualidade do ensino mas que isso nunca levaria a qualquer diminuição do investimento público. Resultado: cada vez é mais reduzido o investimento público e as propinas cada vez mais elevadas transformaram-se na fonte mais importante de financiamento das Universidades.
A expetativa era alta. Muito alta. O medo de sair de lá desiludido era grande. Mas não, foi tudo o que esperava e mais. Os Ornatos são grandes!
A certa altura na cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos apareceram o Batman e o Robin. Não foi um golpe publicitário do novo Batman mas por causa deste famoso excerto de comédia:
No nosso subconsciente encontram-se alojados Statler e Waldorf, os rabugentos dos Marretas, sempre preparados a inundar em cada momento o nosso pensamento com interpretações cínicas sobre o que vivenciamos.
Por esta razão a cada apelo ao espírito olímpico somos recordados do doping, dos boicotes políticos, da violência, da corrupção, dos erros dos juízes. Exemplos que mancham a história das olimpíadas que a colocam bem longe do seu espírito imaginado.
No entanto, o importante é a existência de um ideário a que se aspira. Em todos os outros aspectos da vida este tornou-se obsoleto, em vias de extinção, sufocado por um realismo cínico que perante a incapacidade de atingir um determinado objectivo prefere desistir e procurar objectivos mais simples, concretos.
E é por isso que adoro os Jogos Olímpicos. Eles não mudam o mundo, não o tornam num lugar melhor, parafraseado uma má frase publicitária, porém de quatro em quatro anos e durante duas semanas por mais falhas que padeçam o espírito está lá presente.
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