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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Um adágio famoso, não confundir com a marca de iogurtes, diz que nada está completamente errado até um relógio parado está certo duas vezes por dia.

 


Sem querer retirar o carácter filosófico da frase, a verdade é que um relógio parado é tão útil como uma máquina de preservativos no Vaticano. 

 

  

O meu relógio de pulso, que tem o hábito aborrecido de parar, é o perfeito exemplo. Não que a culpa seja unicamente dele, mas sim da minha inércia: é um relógio automático, sem pilha, que se alimenta dos movimentos de quem o usa. 

 


O problema é que irrita-me andar sempre de relógio no pulso, pelo que o deixo repousar, retirando, dessa forma, a sua única fonte de alimentação.

 

  

Ora, o novo Governo que agora tomou posse, padece do mesmo problema. Até pode acertar em alguns pontos específicos, mas, a menos que a sociedade civil deixe de ser uma massa amorfa e comece a trabalhar, a inovar, a fazer petições, manifestações, reivindicar para que o nosso país ande para a frente, Portugal vai permanecer como o meu relógio: atrasado.

 

Há uma cena no filme "Os Dias da Rádio", em que o alter-ego do Woody Allen é sovado repetidamente pelo pai, mãe e rabi, sendo que, cada um deles, arroga-se a titularidade exclusiva de tal acto.

 

O português, que deve ser o povo que mais "bate" no próprio país: não respeita os espaços públicos; critica o que aqui se faz, sempre terminando com um "só neste país"; mas, como as personagens do filme, indigna-se quando um não-português faz o mesmo.

 

O problema é que Portugal deixou, há muito tempo, de ser um país, de trabalhar para um objectivo comum, um desígnio nacional. Vivemos para as aparências e para o Guiness: desde a maior ponte da Europa ao maior bolo-rei do mundo (o que explica os inúmeros tabus do Presidente Cavaco); obcecados pelo o que é dito sobre nós no estrangeiro.

 

E, quando essa aparência, o único orgulho que nos resta, é beliscada, é o aí jesus* com e-mails de indignação e petições a proibir a entrada no país destes "hereges".

 

Os "patriotas" não sabem, ou não querem perceber, que uma piada normalmente vai buscar estereótipos, exageros: os católicos não têm milhares de filhos, nem as mulheres dão ao luz enquanto trabalham, mas foram assim retratados pelos Monty Phython.

 

Se querem colocar petições e mostrar a vossa profunda indignação: olhem para o estado do nosso património cultural, os monumentos abandonados sem qualquer preservação; olhem para os números da pobreza; olhem para a desertificação que conduzirá a um novo sahara. 

 

Com tanto motivo de indignação deixem-se de novelas, sim?

 

 

* Não confundir com o "aí Jesus" que vai existir quando o FCP se sagrar penta-campeão.

Escolher o momento Monty Python favorito não é nada fácil. Primeiro, pensei no "Dead parrot" ou a "Inquisição Espanhola", ou ainda o jogo de futebol de filósofos, e porque não o Ministério de Silly Walks, a Loja de queijo, o Black night, Ni!, Bigus Dickus...

 

 

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