Meados de Julho e Campanhã está atarefada. Mochilas e malas misturam-se com longos abraços de despedida e lágrimas de reencontros. Respira-se saudade em todo o lado.
Sento-me no primeiro lugar livre que descubro, junto à porta, o que me permite observar toda a carruagem. O semblante desconhecido revela um quebranto que apenas o fim das férias produz.
A não ser a de dois rapazes sentados a meio da carruagem. Um de bochechas vermelhas - tal qual aqueles desenhos animados japoneses – é incapaz de permanecer imóvel. Abre, fecha, reabre a mochila, fotografa tudo. Vã tentativa de guardar o presente. Este é um presente que não nos é dado, simplesmente concedido pelo tempo, que o guarda no banco da memória.
Ao seu lado, uma mulher de cabelos negros, cetinados, vestida de branco quase transparente procura mostrar-se desinteressada, escondendo-se atrás da lombada de um livro que não lê.
O comboio inicia a sua marcha lentamente como que a pedir desculpa aos que ficam esquecidos na plataforma. De costas para a frente do comboio, olho através da janela rectangular, porém, apenas consigo ver o presente e o passado que, como na vida, desenrola-se mais rápido do que consigo acompanhar.
Indiferente, a carruagem marca o seu trilho sincopado pelas laminas paralelas dos carris que, como dois amantes, não vivem sem o outro ao seu lado, sempre, sempre...