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Dois Olhares

"Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen."

Estava a ler na net que vai haver a sequela do filme "O código Da Vinci", desta feita inspirada no livro "Anjos e Demónios", e lembrei-me que já era altura de escrever neste blog. O que é uma coisa tem a ver com outra? Absolutamente nada, mas às vezes o nosso cérebro funciona assim. Mas antes de passar ao post propriamente dito só um pequeno apontamento sobre o Código. Ron Howard fez uma péssima adaptação do livro. Nunca esperei muito do Ron, mas este filme foi realmente mau. E agora vão dar mais dinheiro para fazer a sequela?! Ele há coisas...
No outro dia tive um jantar de primária e apercebi-me que tenho uma péssima memória. Não me lembrava de grande parte da turma, do Bruno da papelaria, dos apelidos das pessoas, das peças de teatro que fizemos, das aulas de música ou de educação física. Mas o Bruno da papelaria foi mesmo o que mais me chocou, pois a cada pessoa que chegava lá perguntavam: "Ah e o Bruno da papelaria, vem?" O jantar foi impecável e fiquei com pena de não ter seguido as vidas destas pessoas.
E de repente atingiu-me, qual raio qual quê, que estou a ficar velho. Pronto, exagero um pouco, ainda tenho direito ao cartão jovem, mas ver a turma da primária com empregos, alguns a trabalhar em Londres outros em Lisboa, é algo de assustador. Porque a visão que tenho deles será sempre de putos, e não de adultos responsáveis. Tratar o zézé de zézé agora parece-me ridículo, fazendo ao mesmo tempo todo o sentido. Ou seja, para mim, ele vai ser sempre o zézé, meu melhor amigo da primária. E o facto de vê-lo a querer ir trabalhar para Londres com a namorada fez-me aperceber que já temos todos uma certa idade. (Também senti o peso da idade pois o arroz de cabidela do jantar não me assentou lá muito bem. Dantes não tinha problemas desses.) Bem, se me sinto assim aos vinte e três anos, estou para ver como vai ser quando marcarmos estes jantares com quarenta e tal.
Também me assusta o facto de não me lembrar do Bruno da papelaria. Mas que raios! Vivia por cima da papelaria do pai e tudo... mas não... nada...


PS: o título deste post é referente ao Elixir da eterna juventude do Godinho. Ele diz "Estou velho, dói-me o joelho, dói-me a perna, dói-me o braço...". Senti-me na obrigação de o explicar pois achei que ninguém ia perceber.
Nunca fui bom com decisões, não que seja bom em alguma coisa, mas nisto sou péssimo. Até nas situações mais comezinhas. Peso os prós e contras, penso no que perco e no que ganho com cada lado que escolher. Se ao menos houvesse o caminho menos percorrido de Frost ou se me apontassem um para afirmar que não irei por aí.
Não! São todos equivalentes e, porque gostava de ter o melhor dos dois mundos, deixo a inércia escolher por mim. Não é que esteja arrependido, até porque a inércia tem sido boa conselheira. Porém, penso em como seria se agarrasse a vida pelos cornos!
Mas a escolha é impossível. Como poderei decidir vivendo uma só vez? Haverá a opção certa ou errada?
Alguém sabe?

 
Bem sei que não criámos este espaço virtual, que a mim me parece tão real, para escrever os nossos diários e os nossos pensamentos rotineiros a cada minuto, mas só porque temos vidas muito ocupadas. Ainda assim, acho que já se dava algum uso aos fabulosos computadores que possuímos, todos da família Apple, e engane-se quem pense que somos artistas, só o Jorge é que tem a mania... O que estou a tentar fazer os meninos do lado de lá ver é que sem movimento não há acção ou sem acção não há movimento, sei lá. Saiamos (será esta a forma verbal correcta?) desta modorra e partilhem ideias, até porque não é difícil escrever sobre assuntos sérios, aka, chatos: - a possível capitulação do BCP. - o depotismo governamental. - a inércia económica e social portuguesa. Ou menos sérios: - planos para o ano novo. - a chegada do Outono - a marmelada, a geleia e as castanhas. Fico à espera. Beijo *

Mas será que nunca se atinge o nível ideal do que quer que seja? E eu até sou bastante consciente no que toca às questões ambientais, já acreditei mais numa solução, é verdade, mas não deixo de reparar nos desperdícios ou pensar em formas de os controlar. Começo, apesar de tudo, a achar que há uma certa perseguição porque, ao que parece, umas das questões actuais no que toca à poluição é o turismo. Agora os grandes senhores que protegem o verde que ainda resta neste mundo querem controlar o volume de viagens de avião que conheceu um aumento exponencial nos últimos tempos sobretudo, dizem eles, devido ao nascimento e desenvolvimento das low-cost. E é justo. O avião é um meio de transporte altamente poluente, a minha dúvida, ou inquietude se preferirem ;), é porque não se fala no aumento do volume de viagens de avião quando estas são relacionadas com os negócios em geral e não o negócio particular do turismo. Ou ninguém repara nas crescentes viagens de e para a China e Índia (entre outros destinos) ou no desenvolvimento das respectivas economias motivadas, em grande parte, por interesses e investimentos ocidentais? Ou será que o nosso interesse nessas economias emergentes não tem a sua quota parte de contribuição para os tão falados e apocalípticos gases que provocam o efeito de estufa?! Não falando nas viagens de cá para lá e de lá para cá que se fazem dentro do continente europeu sob os auspícios de formações e apresentações e feiras disto e daquilo...

Porque será que sempre que encontramos algo que nos satisfaz de alguma forma descobrimos ao mesmo tempo, ou com um ligeiro atraso, o outro lado? E porque é que há sempre duas faces de um mesmo assunto?

 

Ps: Sim, eu tenho interesses particulares nisto das viagens : )

 

Ps2: Pelo que percebo o Al Gore ‘ganhou’ o Nobel pela mensagem do documentário 'Uma verdade inconveniente’ . É de mim ou ele andou a percorrer meio mundo de avião? (e acho que também teve uma conta de luz astronómica,  o que vale é que ele, além de defender o ambiente, tem dinheiro para pagar as contas...)

E o auto-convidado sou eu. Não cheguei tarde ao projecto, cheguei quando tinha de chegar.
Os meus colegas de blogue dedicaram os seus primeiros posts a falar das cidades. Acho que também eu devia dizer algo sobre o assunto.
Sou do Porto, vivo em Gaia, adoro Barcelona. Digo eu que adoro Barcelona, pois a verdade é que a visão que eu tenho da cidade é de alguém que a visitou como turista, que viu os locais certos, às horas certas, no tempo certo, com as pessoas certas. Não imagino como é viver lá, ao contrário da Sofia. (Uns dias na casa de Barcelona do CRG não chegou para compreender).
Sou do Porto porque sim. Porque calhou. Porque teve de ser. Já houve tempos em que amava esta cidade e nunca a punha em causa, mas agora... agora! Este tempo, esta gente, este trânsito, este cinzento constante, esta claustrofobia de cidade que se quer europeia mas que não passa de uma grande aldeia... aborrece-me! Acredito que este aborrecimento também se deva à situação politica, cultural e urbanística da cidade. As constantes obras do metro, das ruas e dos túneis e o aumento incrível de semáforos na baixa, dá vontade de trazer o portuense ao de cima e gritar: "Porra! Mas quando é que esta merda vai acabar, caralho? Hein?" E ainda temos direito a um cartaz da câmara municipal do Porto junto às obras a dizer: "Aplicamos bem os seus impostos".
A nível cultural e político... bem... a situação é conhecida...
Certa noite tirei a foto que ilustra este post. Foi numa noite em que o Porto era A cidade.
Pode ser que volte a ser.


Porque há sempre mais do que dois a querer olhar, sobre as mesmas coisas ou não, temos mais um convidado. Auto-convidado será mais adequado. ;)
Os fundadores acham que ele se podia ter feito ao projecto um bocado mais cedo, põe-se-nos agora o problema do nome do blog. Mas como somos um bando (será que três já chega para criar um bando?) de desenrascados e cada um está na sua margem as coisas até não funcionam mal. Eles são os infiltrados, o olhar deles vem de quem vive dentro, de quem vive lá e o meu é o olhar de cá, que olha com muita curiosidade e saudade para lá.

E sim, não temos planos para fazer nada grandioso, só nos queremos manter em contacto e escrever sobre aquilo de que passamos a vida a falar.
Face a tal tipo de provocação, terei de começar de uma forma quase insultuosa. Primeiro não acho que a fotografia escolhida seja representativa do Porto, nem na altura nem agora, apesar de, confesso, ainda não conhecer bem a nova ‘ágora’ da cidade.

Para mim a memória do Porto será sempre a incontornável ribeira, o rio e as pontes. Não há nada que me acalme mais o espírito inquieto do que aquela visão. A certeza granítica da cidade, avessa a mudanças, aquilo que, espero, sejam as mesmas ruas, as minhas ruas.

Muitas vezes me incomodo com os espaços desertos, desabitados e abandonados do Porto, tal qual disco riscado, estou sempre a falar das inúmeras potencialidades da Baixa do Porto e do centro vibrante em que todo aquele património se pode tornar. Imagino aquelas escadas e escadinhas cheias de gente com destino certo e seguro, quer seja para casa ou um qualquer novo bar, galeria, loja…

E, ao mesmo tempo, receio esse mesmo movimento. Por vezes acredito que, como portuense, como portuguesa, me agrada o incompleto, o meio vazio e não o meio cheio e que, face às recentes expectativas e propostas de turismo para a cidade, recuo nas minhas certezas de desenvolvimento. Acho que não se pode negar o imenso potencial do Porto enquanto destino turístico, mais do que da cidade, falo de região, da macro-região que é o Douro ou o Norte. As vinhas, os castelos, as paisagens, as gentes e a cultura, imagino que uma boa política de posicionamento de mercado podia fazer maravilhas, não negando o grande empurrão que o aeroporto e as low-cost podem dar ou já deram.

Mas afirmar que o Porto pode competir no mesmo plano que cidades como Barcelona, Praga ou Budapeste, como se reiterou numa notícia do ‘Público’ no passado Domingo parece-me ridículo (que não é bem uma opinião, nem tão pouco uma postura – é mais como um 'bitaite'). Não tenciono falar com propriedade, que não tenho, mas a verdade é que, bem ou mal, conheço as três cidades, quatro cidades em questão, duas bem melhor do que as outras e nem sequer entendo como Barcelona, Budapeste e Praga podem estar inseridas na mesma categoria.

Mas o Porto ao nível de Barcelona?! Será que estão a querer que o Porto perca o seu carácter? Eu gosto de pensar que Barcelona já foi uma uma grande cidade e que a atmosfera que aqui se vivia inspirou esta corrente de turismo contínua e crescente da  última década. Mas querer que o Porto seja assim não me parece solução para nada. E defendo que, por muito que se possa contestar o turismo de massas, não se pode negar a abertura de espaços e mentalidades que permitiu, particularmente na Europa. 

Mas há limites e temo que Barcelona tenha encontrado o seu, o turismo de pouca qualidade em que o custo é o primeiro e único factor de a ser considerado vingou nesta metrópole. No fundo o que quero dizer é que prefiro algumas ruas do Porto desertas a este amontoado amorfo de gente.

Sim, não nos distinguimos por uma visão excepcionalmente liberal do quotidiano. Sim, a nossa oferta cultural não nos coloca nos principais palcos europeus e as nossas praias não primam pelas temperatures elevadas e brisas amenas, mas há algo. Há algo mais do que tudo isto e que não sei bem expicar, talvez seja por ser do Porto. É impossível ser imune a essa aura, não sei se será o tempo, como diz o CRG, eu acredito mais nas gentes ou quem sabe uma mistura destes dois factores e de muitos outros que agora me escapam.

E mais do uma crise do Porto, acredito numa crise das gentes do Porto, que se esqueceram da cidade e de si mesmos, do seu potencial conjunto, e que assistem, contidos, à alteração da morfolgia e pulsar da cidade.

Praga não está no mesmo campeonato e é muito mais do que uma paisagem bonita, está numa encruzilhada entre o novo Ocidente e o antigo Leste. Sobreviveu à Guerra e por isso desperta curiosidade. Ver a ‘Ponte Carlos’ e o castelo num qualquer entardecer de Inverno fez-me duvidar. Achava que tinha encontrado uma verdadeira competição para a minha memória, talvez…

No entanto, que gosto de pensar que alguém ao ver o ‘velho casario’ duvide das suas prórias memórias e certezas.


As cidades tem algo de orgânico. São vivas, pulsam energia. O meu Porto, cidade sombria, nascida de granito é como o nosso melhor amigo em que se pode confiar tudo. Não é uma paixão, nem tão pouco um amor à primeira vista. Possui carácter,  humores que variam ao longo do dia, as manhãs cinzentas, tardes de sol e calor, e noites gélidas que convidam a uma bebida quente soterrado em cobertores.

Vive, agora, um momento de crise. Crise no seu sentido etimológico. Mas é e será sempre a minha Cidade! É nas suas ruas que me encontro porque lá estão as minhas memórias. E se vejo com alguma melancolia as obras que se desenrolam perto de mim é porque aquele muro também é meu. Não é feito de simples pedra e cimento. É feito de tempo.

Se toda esta iniciativa do outro olhar deste blog chegar a bom porto e se conseguirmos escrever regularmente sobre temas que interessem a mais outras duas pessoas acho que terá sido uma boa experiência ou, pelo menos, tentativa de experiência.

Eu, que sou o olhar convidado, tenho tempo de sobra. Ideias de génio é que já não me sobram, por isso a falta de conteúdo dever-se-á à peguiça ou ao facto de só pensar e querer escrever sobre assuntos que não interessam a ninguém, nem sequer a mim. E que, contudo, me fazem sentir curiosa.

Tentamos ter um reunião sobre a política editorial que deveriamos adoptar e nem sequer acordámos qual o primeiro tema a tratar, o pontapé de saída. Se eu fosse machista dizia que a bola estava do lado dele... Tão pouco sabemos se os respectivios olhares serão assim tão diferentes. Somos duas pessoas, e isto não é um projecto de alguém com transtorno dissociativo de personalidade, mas nem sei dizer até que ponto os olhares serão assim tão diferentes; não são iguais mas cruzam-se e sobrepõem-se muitas vezes.  Também não acredito que dizer que um olhar é feminino e outro é masculino ajude, uma vez que nos tempos que correm essas barreiras já não limitam ou definem o que quer que seja, fruto dos tempos e das vontades.

E eu, como sempre tive mais jeito para responder do que para sugerir ou perguntar, fico a aguardar o seguinte post para ter oportunidade de contrariar e provocar...

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