Peter Ludlow argumenta que uma das interpretações do conceito "banalidade do mal", cunhado por Hannah Arendt, consiste em perceber o que acontece quando é apenas cumprida a "adequada" função dentro do sistema, seguindo a conduta prescrita em relação a esse sistema, enquanto se permanece alheado das consequências morais das acções do sistema, ou, pelo menos, ignorando essas consequências.
O infame episódio da TSU - após o anúncio de um corte brutal no rendimento "trabalho", Passos Coelho foi assistir a um concerto do Paulo de Carvalho - é um dos exemplos mais claros de como existe no Governo este alheamento dos efeitos (por vezes devastadores) que as medidas que propõe e defende provocam; o corte das pensões acima da quantia milionária de € 419,00 é apenas o exemplo mais recente*.
Infelizmente, este comportamento, tal como Ludlow refere, é bastante comum dentro de organizações altamente hierarquizadas, nas quais existem relações de subserviência. No entanto, o que confere ao "nosso" Governo uma característica peculiar é a forma como fundamenta as suas políticas com um alegado moralismo.
Neste sentido, há no Governo uma contradição interna: a fim de serem alcançados os compromissos estabelecidos com os credores (fundamento moral) são adoptadas medidas, cujas consequências morais são, por sua vez, ignoradas.
*E a alternativa? Tal como existiu alternativa à "TSU" também haveria alternativa ao corte das pensões. No entanto, a questão mais importante é se será possível mudar o próprio sistema, isto é, a austeridade.